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Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

“Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé.”

Et tu viens come si de rien n’était,

fais-moi buillir mon sang

fais-moi rêver de toi dans un instant

au coucher du soleil

et tu pars … comme ça!

Fuis-moi sans un regret,

sans un adieu qui reste comme souvenir.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Quando venho repousar no cair da tarde
meus olhos sonhadores nas sombras que se alongam
entre os raios dourados do ocaso,
ouvindo ao longe murmúrios da vida que se aquieta,
sons de vozes que chegam e partem sem dono,
cães queixosos em quintais incertos e ruas de terra nua;
aspirando a brisa indecisa de um inverno tropical,
meu coração em cadencia branda se aninha no peito,
e um friozinho, um quase arrepio
se insinua pelos meus cabelos e passeia pelos meus poros.
Olho à volta num chamado mudo e percebo
a esperança a caminho, nos braços trazendo você.


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Coração de Safira


Sou pedra rara que guarda seu brilho nas profundezas da terra,
você não pode me encontrar na feira de domingo
entre brócolis, castanhas e flores,
porque sou único e não estou exposto a olhares indiscretos.
Viaje pelo universo e não verás algo próximo, 
sequer semelhante.
Meu poder não está no brilho que reservo com avaro ciúme
está na pureza da gema, perfeita cor e bom quilate
em mãos improprias seria perigo, cobiça, ódio, crimes e guerras.
Sou raridade única e cobiçada,
então me disfarço em andarilho e fujo do burburinho das praças.
Meu segredo carrego pra sempre oculto
e se uma rainha de coração nobre viesse um dia 
a portá-lo ao peito, não sei.
Eu seria radiante estrela cintilante, fogo, raio,
radiação cromática em arco íris
e multidões se curvariam perante sua majestosa altivez.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sergio SimõesEu a sinto na aragem do dia
quando vem repousar o sol
nas montanhas azuis da minha terra.
É só uma saudade que me traz
a passagem do tempo,
nada mais.
Quisera então saber
o porque desse nó na garganta
e essa dor me esmagando o peito.
Uma voz bonita canta ao longe

e uma melancolia me deixa paralisado.
Quieto
deixo que uma lágrima deslizando em meu rosto
vá se esconder entre fios de barba branca.
Sorrio e cumprimento uma mulher que passa,
sem voz, num aceno apenas,
não posso falar.
As montanhas azuis, o sol dourado do entardecer
e essa aragem que me a traz sorrindo
me deixam assim por um momento
sem presente ou futuro com que sonhe,
em todo eu apenas passado,
cravado nos minutos que o relógio não marca mais.

sábado, 18 de julho de 2009

Quando escrevo aqui, escrevo meio sem inspiração, meio sem vontade; forço um pouco a barra, somente pra postar alguma coisa. Não faz diferença, escrevo mesmo é pra mim, gosto de falar do que sinto. Se ninguém me ouve quando quero falar, eu escrevo, e aqui tenho o meio ideal pra isso. Se ninguém lê, não faz diferença, escrevo e pronto, é uma forma de desabafo também e não faço estilo, como escrever de forma que as pessoas venham a gostar. Escrevo como quero, do jeito que me vem à cabeça na hora da inspiração, sem fazer tipo. Este sou eu, é o meu texto, meu poema, meu canal de expressão. Aqui eu ponho minha alma. É bom poder se expressar; seria como gritar em praça publica, onde todo mundo ouve, mas ninguém dá a mínima. Mas eu falei, soltei a minha voz, aqui eu posso gritar, chorar, rir, lamentar, elogiar, lembrar, reviver um fato bom do passado, contar histórias, mentir, e ser bom. Bom com quem me lê, bom com quem me ouve e fazer amizades também, conhecer pessoas com as mesmas afinidades, pessoas que gostam do que escrevo, pessoas que se identificam com o que leem, pessoas que me trazem também algo de bom; então eu descubro que ainda há gente no mundo e isso é reconfortante. Da uma vontade de chorar quando se descobre pessoas assim, mas que estando distantes talvez eu nunca vá ver.

Saudades de vocês a quem nunca vou abraçar.

Homo cyberensis

Virá o dia dos homens descartáveis

das amizades sem toques e sem abraços

dos cyber-romances vazios e mentirosos,

sem choro no bate-boca de namorados que se beijam depois,

abraçadinhos e carinhosos num pedido de perdão.

Sem verdades ditas na frente e com coragem

pelo amigo que não tinha medo de ferir o ego pelo bem do amigo.

Virá o dia das verdades apagadas, porque feriram,

e secarão no cyber-espaço, inúteis, sem germinar.

Virá o dia dos homens criados num ideal de sonhos coloridos

numa imagem de pixels, sorridente, feliz e sem alma.

wallp014

Virá o dia do mundo sem alma,

pois a alma nos faz sofrer com todos os seus desejos insatisfeitos

e não queremos sofrimento.

Virá o dia em que o homem vai deletar o seu meio

e criar um cyber-coração que ele possa comandar.

Do cantinho seguro do seu quarto, a portas fechadas

comandará sua vida, feliz e só, num clik de mouse.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Monólogo matinal

- Bom dia meu caro.
- Hummm, bom dia.
- Como passou a noite?
- Pli malpli, como se diz em Esperanto.
- Ora vamos, nada de pessimismo, então, como passou?
- Dormi.
Pedro Casquilho

-Muito engraçado. Por uma convenção internacional criada não sei em que obscuro momento da humanidade, dormimos à noite. E de manhã nos levantamos como é também convencionado.


- Penso nela...
- E daí. Ainda vai pensar por muito tempo, mas verá que a frequencia e a intensidade vão diminuindo com o passar dos dias. Ainda vai se surpreender pensando em outra pessoa ao despertar.
- Agora, levantemo-nos. Arriva, hombre!!! hahaha!
- Tenho saudades, que faço com a saudade?
- Guarde-a para ti, se quiseres. Não quero saber da tua saudade. Vê aquela luz azulada por cima da montanha? É o sol que vem nascendo. Logo estará brilhante e lúcido e é assim todos os dias, mesmo que você fique aí prostrado com tua saudade, tuas lamurias inúteis, teu pessimismo exagerado. Alguém já disse que estás enganado, verás em breve que é verdade. Portanto, mesmo contra tua vontade, sacuda essa ilusão como um cão sacode as pulgas. Hoje estou para humorista, percebeu? É que temos a vida de graça, temos nosso trabalho que é gratificante, temos os olhos bons para olhar a beleza que outros não podem ver, temos o coração generoso e uma alma de poeta. Esta ultima já não é tão boa mas, pelo menos escrevemos coisas absurdas que os outros leem por diversão.
- Não consigo ficar triste com você falando assim...
- Claro que não consegue. Como pode pensar nisso de maneira viciosa, todos os dias sem se dar conta do tempo que perdes, do tempo roubado à alegria que tens de sobra na alma? Abra as portas do sorriso e deixe essa aragem nova entrar. Melhor, ria alto como sempre fez. Ria alto o mais que puder, que teu riso seja ouvido ao teu redor e se espraia sobre tua vizinhança como esse sol que está prestes a nascer.
Já dormiste demais, já choraste demais; foi um dia chuvoso e frio que passou pela tua vida. Pense na luz da primavera, nos campos de flores silvestres, nas maritacas que vêm cantar em algazarra nos telhados próximos à tua janela, pense no perfume que exalam as árvores da rua ao amanhecer, e no colorido que elas te proporcionam. Pessoas te adoram, mesmo aqui bem próximo de ti. Um filho tem amor incondicional e sois ainda seu herói desde a infância. Seja então herói de verdade. Levanta-te e anda! ó maluco! Que tens a vida plena e lamentas um sentimento que outro não te dedicou.
E agora vamos tomar um café quente que me cansei desse palrear inútil. O dia promete... haha!
O outro se cala, vencido. Um sorriso insinua-se no rosto inchado de quem acabou de acordar, os cabelos amarfanhados no travesseiro.
Um suspiro profundo e salto da cama. Corro ao banheiro para me lavar pensando na melhor roupa para usar nesse dia especial.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O meu amor morreu.
Sem dor, sem remorso.
Eu corria entre canteiros de margaridas brancas
quando o fato se deu.
E nesse instante em que destoa em mim
uma vaga tristeza de convalescente,
em alvoreceres de sábados esquecidos,
me vem à memória um desejo
de me sentar numa varanda, a sós
de frente para o pôr-do-sol
e tomar uma cerveja em calmo distanciamento.
Dirão alguns que meu verso é triste,
que minha boca destila veneno e tristezas
e desamores clamados ao vento.
Canto as coisas tristes, pois sim
eu as canto.
Canto porque não as posso sentir na carne.
Canto porque as queria muito no corpo e na alma.
Canto, porquanto ideais longínquos, inatingíveis.
Canto os desejos que não vivo.
As coisas boas e belas e puras
eu as vivo na presença do dia.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Gina!

- Ginaaa!!!
- Pare de correr que você ainda vai cair nessas pedras!
Foi o grito da mãe que me chamou a atenção e olhei, ainda a tempo de ter a visão da minha vida. Ela devia ter a minha idade, senão pouco menos. Morávamos em casas de alvenaria construídas para o acampamento de obras das estradas que estavam sendo abertas na região. Não havia muros, nem cercas vivas entre as casas. Apenas um espaço de terra batida separava uma residência da outra.
Ela brincava com uma bola colorida de borracha que fugia em todas direções, batendo no cascalho grosso que cobria o terreno dos fundos de nossas casas, num padrão de calçamento irregular.
Justamente quando me virei num gesto automático atraído pelo grito da mãe, ela abaixou-se para pegar a bola. Estava de costas para mim, vestia um surrado vestido de chitão já muito curto para o seu tamanho e absolutamente nada por baixo. Com a flexibilidade própria do corpo infantil ela abaixou-se sem dobrar as pernas. Seu vestido subiu até as nádegas deixando exposta toda a vulva contornada pelos glúteos rosados. Tive um espasmo de dor no estômago. Uma bola de fogo pareceu surgir do nada e subir pelo meu ventre explodindo no meu peito, incendiando minha mente, deixando-me cego e completamente desorientado. Fiquei sem saber o que fazer, se fugia, se ficava ali parado, como quem nada queria, desejoso de que o acaso levasse de novo aquela bola até os fundos, e que a mãe dela ralhasse de novo; qualquer coisa que pudesse fazê-la pegar a bola novamente, descuidada e linda.
Passei o resto do dia e os seguintes de um lado para o outro, meio louco, meio feliz, sem lugar, totalmente inquieto, procurando ouvir os seus gritos fora da casa, sinal que ela estava lá, com a bola abençoada. Mas não houve mais visões. E pelos quarenta anos seguintes aquele momento me perseguiria. E de toda mulher que conheceria desde então, desejaria antes de tudo que ela se mostrasse, como um dia o fez aquela menina: Gina, era seu nome.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Virá a noite lentamente bafejar meus cabelos de branco e cinza
e eu na noite cálida
olhando nuvens passarem inquietas sob a lua.

E me lembrarei de amores antigos que me farão estremecer
seja de saudade, de dor ou de um prazer nunca esquecido.

Alguem dirá ao meu lado :... que quieta a noite!
e a quietude entrará em minha alma
enquanto meus olhos fitarão com ternura o infinito.
Serei feliz de novo
quando os grilos cantarem no silencio
depois da missa do galo.
Jeanne Hauri 

Me levantarei sem pressa e me olharei no espelho
os olhos brilhantes me dizendo: nenhum medo novo!
Nenhum fantasma do passado rondando minhas noites
na imagem refletida.
Verei meu sorriso escancarado e puro
e estarei feliz de novo
com meus dentes tortos
e minha alma livre.