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Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O banho. ( repostagem do original de 04/03/09)

Quando acordo de manhã, a primeira coisa de que me lembro é você falando ao meu ouvido, tua voz ligeiramente rouca me sussurrando coisas que me dão arrepios. Teu riso soa claro em minha cabeça e me faz sorrir de satisfação ao mesmo tempo em que vem o desejo de te possuir assim, logo ao despertar.
Tento fugir me virando na cama, tentando pensar em compromissos, negócios, mas você volta sempre e marca presença com inegável efeito em meu corpo. Nesse momento, tudo em mim se traduz em desejo, num frio que me perpassa o estômago, ao imaginar teu corpo ali colado ao meu. Levanto-me e vou para o banho. Tiro lentamente a roupa e aquele friozinho de pouco antes se transforma numa onda de calor percorrendo as pernas e subindo como uma fogueira abrasadora. Faço um gesto inconsciente de me tocar de leve. Abro o chuveiro já imaginando você ali comigo, teus seios colados em mim, teu corpo quente pronto para minhas carícias, teu hálito perfumado invadindo meus pulmões, inebriante como absinto. Vejo você, os cabelos molhados, a água descendo pelas costas, em riachos serpeantes, perdendo-se em profundezas da imaginação. Beijo-te com ternura, feliz por ter você comigo. Abraço-te e deslizo minhas mãos pelo teu corpo, beijo teus ombros, afago teus cabelos com meus lábios, até alcançar a depressão atrás da orelha onde deposito um beijo delicado. Sinto tua pele se arrepiar.
Saio um pouco do jato do chuveiro para usufruir da sensação erótica provocada pela espuma que vou espalhando em mim. Fecho os olhos e vou deslizando uma mão pelo corpo, enquanto a outra abraça o peito numa carícia de pura fantasia. Os ombros se encolhem num arrepio e o corpo todo vibra como se fossem suas mãos a me tocar. Pouco a pouco me entrego ao êxtase que me proporciona essa ilusão deliciosa, da tua presença, que a imaginação faz quase real. Todo meu ser vibra numa emanação de sentimentos confusos de amor, de censura, de prazer, culminando numa descarga elétrica quase violenta, um choque de alta voltagem que me deixa sem forças.
Ajoelho-me um pouco no piso e depois me sento esgotado, o jato quente do chuveiro caindo sobre meu corpo. Deixo-me ficar assim por um momento, incapaz de pensar, num estado indefinido, totalmente entregue, o desejo exaurido.
Pouco depois me levanto e termino o banho como se nada tivesse acontecido.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O amor nos tempos da net.

Uma noite de inverno, num futuro distante, sentados numa sala aconchegante, o fogo crepitando na lareira, tomando chimarrão enquanto conversam, falam do frio, ela pede que lhe traga uma colcha a mais para aquecer os pés, ele vai pegar, logo volta e estendendo-a sobre suas pernas senta -se ao seu lado.
Falam de música, cinema, de livros e discutem algumas teorias filosóficas. Discordam sempre e acabam caindo no riso, acusando-se mutuamente de um não compreender o raciocínio do outro, ou de simplesmente discordar, apenas pelo prazer de discordar. Recordam-se de outras noites, outros dias, amigos que se foram, viagens programadas, realizadas umas, outras não, coisas a fazer nos dias vindouros. Falam e falam por horas a fio, num interminável fiar de assuntos os mais variados. O mate acaba, faz-se um silencio, que horas são? Já? Como o tempo passa depressa...


—Lembra quando ficávamos horas na Internet no nosso começo? E a gente nem se conhecia pessoalmente? Eu me lembro. Me lembro também que você um dia me agrediu com palavras duras, nossa primeira briga; aquilo pra mim foi o fim.
—É... foi. Eu fiz isso a você.

  Ele se senta de frente para ela, pega suas mãos num gesto de aquecê-las. Olha nos seus olhos e contrito, o semblante traindo a dor de uma ferida antiga, mesmo depois de tanto tempo, so consegue dizer: Me perdoe.
Ela ri, dá-lhe um tapinha carinhoso no braço e diz: Seu bobo!!

Pouco depois, quando vai ao banheiro antes de dormir, ele se olha no espelho e o que vê são dois olhos cansados, marejados de lágrimas.

Virtual doméstico.

E eis que imagino ter você comigo todos os dias. Chegar em casa e compartilhar com você os acontecimentos do dia. Tomar um banho juntos, depois sentar na cozinha e conversar amenidades. Ouvir musica juntos, comentar um livro interessante, aquele filme legal. Deitar tua cabeça no meu colo e fazer cafuné até você adormecer. Depois te acordar com um beijo tranquilo, passeando meus lábios sobre tua face, tua boca, aspirando o perfume da tua pele e dos teus cabelos. Acordar todos os dias tendo você ao meu lado desfeita em fiapos de sono, sorridente um dia, mal humorada em outros. Te desejar bom dia com um abraço recheado de beijos. Tomar um café fumegante "na corrida" antes de sair com um aceno e um beijo jogado de longe. Saber que a rotina virá um dia e compreender enfim que o amor é também feito de dias brancos. Rir juntos de qualquer coisa banal; será que um dia riremos às gargalhadas sem motivo outro que o prazer de estarmos juntos? Amar você com frisson, com deleite, com prolongado prazer de um arrepio circulando pelas costas, enquanto você "puxa" meu cabelo, com ganas de arrancar-me a alma. Abraçar você com carinho e afeto e afagos e mimos. Cuidar de você, da menina que ainda brinca com sonhos e que se recusa a deixá-los morrer.

O que sinto não foi imaginado. Tuas imagens não foram criadas na mente de algum artista ( ou teriam sido? ). Nossos contatos são apenas meio completos, quando falta o som das nossas vozes, o brilho dos nossos olhos, o cheiro, o calor da pele. Contudo, ainda nos restam os pensamentos, mesmo que expressos em linhas frias numa tela branca. Já não é pouco e no momento nos basta, apesar da insuficiência em satisfazer os anseios do espírito. Um mínimo de presença, os pensamentos, e esses não são em nada virtuais. Têm força, têm poder de realização, e não há distância que os impeça de atingirem o objetivo. Mas o que é que pensa? O espírito, a alma ou qualquer outro nome que se lhe dê. E se tuas palavras mesmo sem o som da tua voz, podem expressar o que vai no teu espírito, se eu me identifico com elas e me calam fundo no coração, então fica claro que temos uma grande afinidade. Tão real que interfere no metabolismo, na pulsação, no sono e de forma muito positiva no humor.
Realidades apartadas. Destinos cruzados.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Que ares, menina!

Menina, quem ares
travessos te deu,
que me trazem assim a saudade,
de um tempo de crença
de brilho
de paz?
Corria menina
por várzeas e trilhas
saltava o riacho, varava o caminho
na face, um fogo
nos olhos, urgência
um amor que virá!
Menina, que ares travessos
que ares travessos!
e meu coração lá ficou
no caminho, parado
no tempo
que bobo..! ficou.

Desencanto

De fina, etérea, infinita
névoa
se fez o meu ser.
Em pouco tempo serei talvez
um ponto
uma gota, talvez
rubra lágrima caindo com espalhafato
na página branca
mas hoje porém, sou o nada
branco mesclado ao branco.
Inútil insistir.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Inalcançável.

Não sei o que se passa comigo. Estou estranho, meio no ar, triste, sem chão. Quando era criança tive uma febre de uma semana da qual saí muito debilitado. Meus pensamentos pareciam ser de outro. Eles vinham e iam em ondas e era como se eu assistisse tudo à distancia. Tentava sair para brincar e só conseguia ouvir os gritos dos amigos como se fosse de dentro de uma bolha. É a sensação que tenho hoje. Tudo começou depois que olhei pra você. É mais do que esperava. Fiquei chocado. Por quê? Me senti um animal solitário na imensidão da estepe do Cazaquistão numa noite de lua cheia. Uma lua brilhante, de prata, linda, perfeita num céu estrelado, e torturantemente próxima. No meu desejo de tocá-la, no desvario da certeza do impossível só poderia uivar, e se possível fosse, uivar até que minhas forças se esgotassem e eu caísse morto. A figura é exagerada mas é a verdade. Gostaria de saber o que está no fundo, coberto pela calmaria da superfície. Você é um mistério. Poucas pessoas te conhecem de verdade. Pois você é de uma complexidade à prova de qualquer exame superficial. Está só. Como todos os solitários sonha com aquela pessoa que está em algum lugar e que ainda não chegou. Porque é da natureza humana não ser sozinho. Só te falta amor. Amor verdadeiro, sublime, abnegado.
E como eu gostaria de te dar tudo isso! Estar na tua presença como a peça que faltava para completar esse complexo quebra-cabeças que é você.
Mas para o lobo, a lua é inalcançável.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Todas as manhãs eu perco um minuto a mais de caminho
a esperança personificada passando pela rua
a sentir, mesmo a certa distancia
nas paredes lisas e indiferentes, 
nas cortinas por trás do vidro da janela, 
no arbusto que cresce no jardim defronte ao teu quarto
a tua presença no mundo que te rodeia.
Percebo teu olhar nos meus ombros 
lançando dardos pela fresta da cortina.
Não  olho, ou apenas olho de soslaio
e sigo em frente, coração aos pulos, desejoso, sonhador
em passos lentos me distancio
esperando, esperando...
que tua voz, num desses dias de céu azul e sol dourado
num timbre cristalino, altissonante
grite enfim o meu nome.