Já na aurora, não vivo
sinto raiva de tudo
meu dia se arrasta em tarefas imensas
receio tudo, tudo é fardo, é dor
o desleixo, o despropósito do abandono
o cair a cada minuto, desacreditado
a tentativa vã da retomada no rumo certo
a desistência a cada hora fatigante.
O querer sair e ficar, atônito
o ficar e querer sair, atônito.
Uma vontade de nada
um choro que não vem
uma agonia sem nome
um atordoamento de limbo
um desistir de sonhos.
A desistência e enfim o sono pesado da fuga.
E quando me assalta a descrença
e me entrego nessa morte cotidiana
teu sorriso vitorioso me alcança ao fim do dia
resgata-me do abismo
e mais um dia é vencido,
os temores afastados,
serei novamente criança, por mais uma noite
até o alvorecer.