Minha foto
Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Gina!

- Ginaaa!!!
- Pare de correr que você ainda vai cair nessas pedras!
Foi o grito da mãe que me chamou a atenção e olhei, ainda a tempo de ter a visão da minha vida. Ela devia ter a minha idade, senão pouco menos. Morávamos em casas de alvenaria construídas para o acampamento de obras das estradas que estavam sendo abertas na região. Não havia muros, nem cercas vivas entre as casas. Apenas um espaço de terra batida separava uma residência da outra.
Ela brincava com uma bola colorida de borracha que fugia em todas direções, batendo no cascalho grosso que cobria o terreno dos fundos de nossas casas, num padrão de calçamento irregular.
Justamente quando me virei num gesto automático atraído pelo grito da mãe, ela abaixou-se para pegar a bola. Estava de costas para mim, vestia um surrado vestido de chitão já muito curto para o seu tamanho e absolutamente nada por baixo. Com a flexibilidade própria do corpo infantil ela abaixou-se sem dobrar as pernas. Seu vestido subiu até as nádegas deixando exposta toda a vulva contornada pelos glúteos rosados. Tive um espasmo de dor no estômago. Uma bola de fogo pareceu surgir do nada e subir pelo meu ventre explodindo no meu peito, incendiando minha mente, deixando-me cego e completamente desorientado. Fiquei sem saber o que fazer, se fugia, se ficava ali parado, como quem nada queria, desejoso de que o acaso levasse de novo aquela bola até os fundos, e que a mãe dela ralhasse de novo; qualquer coisa que pudesse fazê-la pegar a bola novamente, descuidada e linda.
Passei o resto do dia e os seguintes de um lado para o outro, meio louco, meio feliz, sem lugar, totalmente inquieto, procurando ouvir os seus gritos fora da casa, sinal que ela estava lá, com a bola abençoada. Mas não houve mais visões. E pelos quarenta anos seguintes aquele momento me perseguiria. E de toda mulher que conheceria desde então, desejaria antes de tudo que ela se mostrasse, como um dia o fez aquela menina: Gina, era seu nome.