- Flavio Dutra
- Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)
sábado, 24 de outubro de 2009
Carne, ossos e protuberâncias;
sentado de pernas cruzadas seguro meu tornozelo,
movimento meu pé e sinto as articulações.
O que sou eu afinal?
Mente que pensa possuir um corpo
ou corpo que pensa?
Meus músculos ja não me garantem a eternidade
que almejei uma dia nos albores da minha juventude,
e no entanto meu coração
sente sempre em descompasso.
Fora de sintonia com o resto, ele insiste sempre
em amar.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
meus atos temerários do passado,
a fuga de dores mal suportadas
a imaginação que voava
no entusiasmo de conhecer cada coisa bem de perto.
Nesse momento eu paro e perscruto o horizonte incerto
parado no meio da estrada eu olho atrás, não há volta possível,
muito chão percorrido
e se volta houvesse, para onde?
O ponto de partida perdeu-se no tempo.
Olho à frente, o desconhecido, sempre o desconhecido.
Ainda me arrastarei por esse pó, em infinitas eras
e não conhecerei o caminho que aparece à minha frente.
Desejo me sentar na grama molhada e fresca ainda de orvalho
e percebo que seria por pouco tempo esse descanso possível,
tendo que voltar a caminhar, interminavelmente, incansavelmente,
carregando o pó da estrada na secura dos meus pulmões,
levando nas minhas sandálias de borracha
uma sede jamais saciada.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
são puros,
confundem-se,
sem malícia se perdem,
se doem por outros.
Ao andrajoso caído
a mão, levanta-te!
vem e anda comigo.
Anjos são calmos
não riem, sorriem,
com ternura nos olham
nos olhos oceanos
de acolhedora doçura.
Anjos são limpos
de maldade ou prazer,
falam de amor,
minimizam a dor.
Anjos elevam
arrastam da torpe
crueza da lama
ao mais infeliz.
Anjos olham com classe
no âmago do ser,
animam as mentes
mostram a luz
aos mais indigentes.
Anjos imploram
por serem
simplesmente
onipresentes.
Sempre fui de fazer as coisas que gostava. Sempre fui de lutar pelo que desejava alcançar. Lutei muitas lutas, algumas inglórias mas nunca tive medo de perder como também não lamento minhas perdas porque elas fazem parte da minha historia. As minhas conquistas as compensam com larga vantagem. Nunca tive as melhores chances na vida e por isso me vi obrigado a cria-las por mim mesmo. Sou o que sou porque me fiz quase sozinho. Escolhi meus caminhos e tentei segui-los da melhor forma que me permitiam minhas ferramentas, ou seja, meu cérebro e minha força vital. Porém, com a idade vamos perdendo o ímpeto que nos dava a energia da juventude, vamos nos endurecendo e o medo, que antes não incomodava, passa a nos rondar todos os dias. Não saltamos mais. Caminhamos lentamente com passos indecisos rumo ao ostracismo, sem perceber que no fim só existe a morte e perdemos um tempo precioso analisando cada gesto, cada palavra, cada pisada no mesmo chão que antes era tão firme. Deveríamos reagir e lutar, mas alguma coisa nos falta, talvez a vontade de continuar. Desejamos o repouso do fim do dia quando ainda nem chegamos ao meio da tarde. Vamos nos entregando ao imperioso desejo de desistir e até chegamos ao absurdo de desejar a morte como saída mais fácil. Não falo de um desejo de suicídio, mas do sentimento que nos domina e nos engana, de que a morte será o descanso almejado. Temos isso em todos nós, desejamos a morte sempre e no entanto quando colocamos isso em nível consciente nos assustamos. A verdade é que sempre desejamos e até procuramos a morte. Eis aí o paradoxo.
Ha contudo uma outra forma de analisar a fatalidade. Já que vamos mesmo morrer, e ninguém pode evitar seu próprio fim, por que não lutar para ter o que desejamos? Por que não reagir, sacudir a apatia e partir com vigor contra as hostes do desânimo que nos assaltam? É a nossa única opção: LUTAR.
Morrer vamos todos, mais dia menos dia. Então, que morramos lutando pelos nossos sonhos. Pelo menos teremos a chance de realiza-los.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
amarfanhado e sem vida,
deixando lamento
e somente irrisão.
Lua, lua…
Lua Crescente no horizonte aberto, sorridente clarão promissor,
a olhar-te tão perto e impossível, sonhos em noites de brisa morna
e me esquecendo que haveria futuro,
me contento de tua visão hipnótica,
melodiosa canção preenchendo o espaço em torno de mim.
Lua Minguante, sorriso morrendo, tristeza que se insinua em mim,
canções distantes apenas solfejadas na memoria,
lembrança, saudade, melancolia de noites sem cor
e a fuga,
vai-te fugindo céus afora,
deixando a esperança de rever-te, alimentada sempre
em noites de Lua Nova, escuras e solitárias, na espera do dia.