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Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Rod Rodrigo Silva
E meus passos vão firmes e seguros, e vou tranquilo,
pois amo a vida e sei que ela me protege, sou seu filho.
Nenhum receio nas horas mais difíceis, pois sei
o caminho mais íngreme leva ao topo da montanha
de onde descortina-se a beleza do vale
e quem sabe, o mais puro pôr-do -sol.
Nessas horas eu me aquieto,
sento e espero a passagem do tempo
e deixo vergastar-me o rosto a fúria das tempestades.
Sempre virá o dia depois, num circulo eterno
de retorno, retorno, retorno
e nesse movimento estarei de volta aos dias de sol,
aos momentos de adoração ao amanhecer
quando cantarei a plenos pulmões minha alegria para o mundo
ou simplesmente usarei algumas horas
assobiando uma cantiga de amor
com um lindo sorriso maroto iluminando meus olhos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009



É so um ar de não sei quê
um vazio quando acordo, uma dor no peito,
a sensação de um infarto iminente.
Uma vontade de me derramar em prantos
como uma criança inocente vilipendiada.
Um vazio imenso a cobrir, quase infinito
onde me sinto irrecuperável, incompetente para reagir
sendo grande demais essa distancia.
E uma saudade que me vem não sei de onde
tanto assim, 
a me deixar em frangalhos
e sem vontade de encarar o dia.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Uma noite envolvente, pesada e quente.
No ar silencioso e parado, nenhum movimento 
que alivie o ardor da pele. 
Passam minutos infindos e letárgicos 
sobre o corpo nu colado aos lençois de seda.fotos-mulheres-Jan-Scholz-02 
Em um momento vem o ruir de castelo de cartas,
deixando à mostra imagens antigas na parede. 
E no ar parado, na fornalha úmida do quarto 
um quadro oscila 
num vai-e-vem de desejo e repulsa 
quando o coração reprime um soluço dolorido, 
meneando a cabeça de lado a lado, 
numa negação.

sábado, 14 de novembro de 2009

Quero amar enquanto tenho saudade,
enquanto meu corpo se lembra
de olhares lançados ao acaso dos encontros fortuitos,
das palavras ditas em sussurros apressados
de passagem num canto da sala.
Enquanto meu corpo ainda pede
um beijo furtivo na cozinha,
quando outros riem no patio,
numa confraternização inocente de fim de semana.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Me encontrando à margem dos fatos,
sentado num canto mais afastado de todos,
medito nas atitudes dos homens que jogam cartas.
Meu relógio de ouro marca o tempo que não vivo,
duas horas sem vida, mais meio tempo de uma morte improvável,
e marcará mais tempo ainda, além do que for do meu desejo.
Horas e horas que contemplo a vida passando à minha frente,
enquanto homens jogam cartas numa mesa de bar.

Fernando Fiqueiredo

Reoriento meus sentidos
e vejo a sentinela que grita um alerta,
a sentinela me diz que o tempo não é meu.
Me sendo dado por empréstimo
não devo joga-lo, como fazem os homens nas cartas,
ele não me pertence.
Mas tenho um relógio dourado
que conta implacável o escoadouro do tempo
e o que já foi esbanjado me será cobrado, é certo.
O que ainda está por vir também me será cobrado,
e somando, o que vem é maior que aquilo que já  passou.
Constato então que tenho uma dívida incomensurável de tempo
impagável
segundo o cálculo inútil das minhas probabilidades.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009


São horas caladas essas na sala de espera
mutismo, olhar ansioso aos movimentos do corredor
expectativa, e um não-saber que sentir
um turbilhão de emoções,alguma incredulidade
e o passar das horas caladas nos ponteiros imóveis
e um sem-mãos que afaguem
um sem-voz que acalante
um sem-olhar que assegure
um não-sei-qualquer incongruente
que me vai cansando aos poucos , me exaurindo
enquanto aguardo ansioso a chamada final.















Um campo de tulipas
e ela sorri sorvendo o aroma das flores
correndo por um  momento para alcançar uma outra mais linda.
E eu ali parado, observando seus movimentos,
me inebriando com seus olhos oblíquos
e seu sorriso claro, refrescante, no calor da tarde.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009



Minha vida ja não é real.
Nada mais do que vivo faz parte da realidade.
O mundo real tornou-se sonho, ilusão, fantasmagoria  
da qual eu fujo com tenacidade no dia a dia.
O virtual  é como uma bebida forte que nos alivia o raciocínio 
ou nos leva  à permanente alteração da consciencia, 
de onde não desejamos mais sair.
Assim eu fico onde tudo é agradável e não tenho responsabilidades.
Lindo orbe onde tudo é descartável
até mesmo minha propria personalidade.
E pensar que era só um desejo de ser 
que me aguilhoava a carne.
Sara Sa
Em alguns momentos não sou mais coração.                                          
Então é que percebo o quanto me torno inútil                                        
porque meu corpo não sabe agir sozinho.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Na hora do almoço, contando grãos de feijão no prato,
me transportando de um lugar a outro
meus olhos se levantam em dado momento
vagueando pela folhagem do jardim.
Uma libélula passa ruidosa e sobrevoa uma folha de antúrio,
fica ali um momento, num balanço lateral, e parte veloz
levando meu olhar que a segue na luz do dia,
envolto na quietude da hora.
Voltam meus olhos ao prato à minha frente 
aos feijões agora enrugados e frios.
Depois se movem pelas paredes brancas como a alma
quando a alma deveria ser da mais viva cor.
E digo a mim mesmo inconsolado
Oh! quanto vazio a ser preenchido!