Era um lindo dia no inicio da primavera e o degelo fazia a correnteza do rio correr mais forte. Eu estava sentado logo abaixo de uma linda corredeira onde a água saltava entre as pedras em contínuo ronronar de gato que recebe carinho no colo. Deixei a vara de pesca montada com molinete descansando na beirada da margem e fiquei olhando a paisagem em volta. Havia muitas árvores novas no outro lado e onde eu estava era um terreno vazio, ondulado e ainda coberto com um pouco de neve caída durante a noite.
Ouvi um ruído leve de algo se arrastando no chão e quando olhei, vi minha vara caindo no rio sendo arrastada por alguma coisa grande na água. Pensei num peixe enorme, mas quando olhei para o rio, para minha surpresa, um leão descia com a corrente se debatendo e tentando se aproximar da margem. Um leão nadando? Nunca pensei que isso fosse possível. Em minha concepção de felinos, eles têm horror a água. No entanto lá estava um no meio do rio e levando minha vara de pesca novinha. Deveria ter caído na água rio acima, e agora tentava escapar. Sem pensar pulei na água na esperança de alcançá-la mas não consegui. A correnteza me levou rio abaixo, por uns cem metros, até que consegui nadar de volta. Ao mesmo tempo que atingi a margem, vi o leão saindo também, uns cinquenta metros abaixo. Ele ainda arrastava minha vara, puxada pelo anzol que aparentemente havia fisgado seu pelo, ou a própria pele, quando descia rio abaixo.
Não podia desistir agora; era uma vara de fibra, com um molinete caro, e eu a usava pela primeira vez.
O animal já fugia pra longe do rio e eu sem titubear fui atrás. Ele subiu por uma elevação do terreno e desapareceu. Corri ainda mais, num esforço de atleta no sprint final da corrida e atingi o topo da elevação. O terreno terminava numa concavidade de uns quinze metros de diâmetro que formava uma pequena arena. E no centro dessa arena, o leão esperava! Via agora que na verdade era um puma. Ele estava sentado sobre as patas traseiras e me olhava com seus olhos caramelados e fixos. Fiquei paralisado, e só então percebi a burrice que foi segui-lo. Ele se levantou e veio caminhando quase agachado em minha direção, o olhar paralisante que não se desviava, fixo em meu rosto e a cauda baixa, como se fosse uma corda estirada e pronta para impulsiona-lo à frente. De repente saltou. Tive tempo ainda de juntar as mãos com os dedos entrelaçados e os braços formando um V invertido, para proteger o rosto, de forma que quando me alcançou, suas patas atingiram meus ombros e pude agarrar sua mandíbula por baixo da garganta.
Cai de costas com todo seu peso por cima de mim. Era um animal tremendamente forte e pesado.
Ao cair, num instinto de proteção corporal, dobrei a perna e meu pé ficou firmemente apoiado na articulação da sua coxa com o quadril. Já no chão suas fauces escancaradas junto ao meu rosto, pude sentir seu hálito fétido em toda sua crueza e selvageria.
Fiz um esforço sobre humano para jogá-lo de lado com a força do meu pé apoiado e um giro de corpo. Ela tombou de lado mas não foi de grande alivio, pois com a força da inércia, e como se fosse um judoca experiente, jogou-me por cima do seu corpo e por sorte caí sobre as mãos e os joelhos. Já me preparava para levantar quando ouvi seu rugido subsônico, paralisante e terrível. Mal tive tempo de pensar na minha morte iminente.
Acordei me debatendo, ainda com espírito de luta. Estava na minha cama, quentinha e aconchegante. Sem neve, sem frio, sem leões ameaçadores.
Me virei de lado com um suspiro e tentei voltar a dormir.
Mas antes de cair no sono ainda pensei uma coisa engraçada. Alguém já sentiu cheiro no sonho? Não me lembro de alguma vez ter sentido cheiro num sonho. Acho que os sonhos não têm cheiro.
Cai num sono sem sonhos até amanhecer.
Ouvi um ruído leve de algo se arrastando no chão e quando olhei, vi minha vara caindo no rio sendo arrastada por alguma coisa grande na água. Pensei num peixe enorme, mas quando olhei para o rio, para minha surpresa, um leão descia com a corrente se debatendo e tentando se aproximar da margem. Um leão nadando? Nunca pensei que isso fosse possível. Em minha concepção de felinos, eles têm horror a água. No entanto lá estava um no meio do rio e levando minha vara de pesca novinha. Deveria ter caído na água rio acima, e agora tentava escapar. Sem pensar pulei na água na esperança de alcançá-la mas não consegui. A correnteza me levou rio abaixo, por uns cem metros, até que consegui nadar de volta. Ao mesmo tempo que atingi a margem, vi o leão saindo também, uns cinquenta metros abaixo. Ele ainda arrastava minha vara, puxada pelo anzol que aparentemente havia fisgado seu pelo, ou a própria pele, quando descia rio abaixo.
Não podia desistir agora; era uma vara de fibra, com um molinete caro, e eu a usava pela primeira vez.
O animal já fugia pra longe do rio e eu sem titubear fui atrás. Ele subiu por uma elevação do terreno e desapareceu. Corri ainda mais, num esforço de atleta no sprint final da corrida e atingi o topo da elevação. O terreno terminava numa concavidade de uns quinze metros de diâmetro que formava uma pequena arena. E no centro dessa arena, o leão esperava! Via agora que na verdade era um puma. Ele estava sentado sobre as patas traseiras e me olhava com seus olhos caramelados e fixos. Fiquei paralisado, e só então percebi a burrice que foi segui-lo. Ele se levantou e veio caminhando quase agachado em minha direção, o olhar paralisante que não se desviava, fixo em meu rosto e a cauda baixa, como se fosse uma corda estirada e pronta para impulsiona-lo à frente. De repente saltou. Tive tempo ainda de juntar as mãos com os dedos entrelaçados e os braços formando um V invertido, para proteger o rosto, de forma que quando me alcançou, suas patas atingiram meus ombros e pude agarrar sua mandíbula por baixo da garganta.
Cai de costas com todo seu peso por cima de mim. Era um animal tremendamente forte e pesado.
Ao cair, num instinto de proteção corporal, dobrei a perna e meu pé ficou firmemente apoiado na articulação da sua coxa com o quadril. Já no chão suas fauces escancaradas junto ao meu rosto, pude sentir seu hálito fétido em toda sua crueza e selvageria.
Fiz um esforço sobre humano para jogá-lo de lado com a força do meu pé apoiado e um giro de corpo. Ela tombou de lado mas não foi de grande alivio, pois com a força da inércia, e como se fosse um judoca experiente, jogou-me por cima do seu corpo e por sorte caí sobre as mãos e os joelhos. Já me preparava para levantar quando ouvi seu rugido subsônico, paralisante e terrível. Mal tive tempo de pensar na minha morte iminente.
Acordei me debatendo, ainda com espírito de luta. Estava na minha cama, quentinha e aconchegante. Sem neve, sem frio, sem leões ameaçadores.
Me virei de lado com um suspiro e tentei voltar a dormir.
Mas antes de cair no sono ainda pensei uma coisa engraçada. Alguém já sentiu cheiro no sonho? Não me lembro de alguma vez ter sentido cheiro num sonho. Acho que os sonhos não têm cheiro.
Cai num sono sem sonhos até amanhecer.