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Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

sábado, 24 de outubro de 2009

Este ser que sou eu.
Carne, ossos e protuberâncias;
sentado de pernas cruzadas seguro meu tornozelo,
movimento meu pé e sinto as articulações.
O que sou eu afinal?
Mente que pensa possuir um corpo
ou corpo que pensa?
Meus músculos ja não me garantem a eternidade
que almejei uma dia nos albores da minha juventude,
e no entanto meu coração
sente sempre em descompasso.
Fora de sintonia com o resto, ele insiste sempre
em amar. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Ouvidos que não atingiram a capacidade auditiva de um Villa-Lobos,
se restringindo à audição das popularescas obras de Beethoven
e de um Tchaikóvsky costumeiro e bem conhecido da população
dizem de mim o que sou e não o que pretendo ser.
Ando nas rodas dos mercados, entre pedreiros e pintores de paredes
feirantes que gritam as virtudes da mercadoria exposta
ensolaradas manhãs dominicais 
ou nos bares onde se reúnem no final de um dia estafante
a massa operante dos homens que constroem vidas,
que as mantêm, e sem saber ao certo a quê vêm.
Meu coração me segue, como um cãozinho domesticado.
Meus desejos, ele os aceita e vibra em uníssono comigo,
mente o corpo sabendo de antemão o que virá depois.
E ele, que nada sabe das divas,
ama sobretudo estar em casa
ao lado da única mulher que lhe apraz de fato
querida, meiga, sonhadora, amante nas horas maduras da noite
terna mãezinha querida e sorridente
enamorada perene me elevando num altar de deuses
quando eu a envolvo carinhosamente
em raios fulgurantes partindo do meu olhar cativo. 

domingo, 18 de outubro de 2009


A mulher que eu amo tem o frescor das manhãs de maio. 
Ela sorri com a singeleza dos jasmins que florescem no jardim 
e adoro o jeito como ela se porta ao ajeitar a blusa branca 
de rendas e mangas curtas. 
Ela tem o rosto muito enrugado mas amo o brilho dos seus olhos, 
o som da sua voz me acaricia e me acalma, 
me fazendo sorrir com tamanha tranquilidade. 
Ela tem oitenta, cem anos talvez 
mas eu vejo nela a mocinha que um dia acalentou os meus sonhos, 
seu jeitinho deslumbrante de me olhar nos olhos, 
seu modo de falar sem palavras, 
seu caminhar calmo e compassado, seguro e de porte altivo, 
o suspirar quando a abraço com ternura, 
o riso cúmplice quando de manhã soltamos gazes na cama 
ao despertar modorrentos e pesados. 
Choramos na partida de um ente que se foi prematuramente 
ou rimos de comum acordo de uma piada sem graça 
lançada ao acaso no correr do dia. 
Minha companheira é linda e sou grato por ela ser assim 
por tê-la comigo até esses dias incertos 
da minha inoperante ancianidade. 
E a amo nas horas inseguras do final de mais um dia, 
no inicio da noite quando ela me segura com a mão firme 
e me diz com calor na voz: Oh! Estamos bem!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

fotosdez 2008 010          
Eu trilho os caminhos onde me trouxeram meus desejos
meus atos temerários do passado,
a fuga de dores mal suportadas
a imaginação que voava
no entusiasmo de conhecer cada coisa bem de perto.
Nesse momento eu paro e perscruto o horizonte incerto
parado no meio da estrada eu olho atrás, não há volta possível,
muito chão percorrido
e se volta houvesse, para onde?
O ponto de partida perdeu-se no tempo.
Olho à frente, o desconhecido, sempre o desconhecido.
Ainda me arrastarei por esse pó, em infinitas eras
e não conhecerei o caminho que aparece à minha frente.
Desejo me sentar na grama molhada e fresca ainda de orvalho
e percebo que seria por pouco tempo esse descanso possível,
tendo que voltar a caminhar, interminavelmente, incansavelmente,
carregando o pó da estrada na secura dos meus pulmões,
levando nas minhas sandálias de borracha
uma sede jamais saciada.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Anjos são simples
são puros,
confundem-se,
sem malícia se perdem,
se doem por outros.
Ao andrajoso caído
a mão, levanta-te!
vem e anda comigo.
Anjos são calmos
não riem, sorriem,
com ternura nos olham
nos olhos oceanos
de acolhedora doçura.
Anjos são limpos
de maldade ou prazer,
falam de amor,
minimizam a dor.
Anjos elevam
arrastam da torpe
crueza da lama
ao mais infeliz.
Anjos olham com classe
no âmago do ser,
animam as mentes
mostram a luz
aos mais indigentes.
Anjos imploram
por serem
simplesmente
onipresentes.

 

Sempre fui de fazer as coisas que gostava. Sempre fui de lutar pelo que desejava alcançar. Lutei muitas lutas, algumas inglórias mas nunca tive medo de perder como também não lamento minhas perdas porque elas fazem parte da minha historia. As minhas conquistas as compensam com larga vantagem. Nunca tive as melhores chances na vida e por isso me vi obrigado a cria-las por mim mesmo. Sou o que sou porque me fiz quase sozinho. Escolhi meus caminhos e tentei segui-los da melhor forma que me permitiam minhas ferramentas, ou seja, meu cérebro e minha força vital.  Porém, com a idade vamos perdendo o ímpeto que nos dava a energia da juventude, vamos nos endurecendo e o medo, que antes não incomodava, passa a nos rondar todos os dias. Não saltamos mais. Caminhamos lentamente com passos indecisos rumo ao ostracismo, sem perceber que no fim só existe a morte e perdemos um tempo precioso analisando cada gesto, cada palavra, cada pisada no mesmo chão que antes era tão firme. Deveríamos reagir e lutar, mas alguma coisa nos falta, talvez a vontade de continuar. Desejamos o repouso do fim do dia quando ainda nem chegamos ao meio da tarde. Vamos nos entregando ao imperioso desejo de desistir e até chegamos ao absurdo de desejar a morte como saída mais fácil. Não falo de um desejo de suicídio, mas do sentimento que nos domina e nos engana, de que a morte será o descanso almejado. Temos isso em todos nós, desejamos a morte sempre e no entanto quando colocamos isso em nível consciente  nos assustamos. A verdade é que sempre desejamos e até procuramos a morte. Eis aí o paradoxo.

Ha contudo uma outra forma de analisar a fatalidade. Já que vamos mesmo morrer, e ninguém pode evitar seu próprio fim, por que não lutar para ter o que desejamos? Por que não reagir, sacudir a apatia e partir com vigor contra as hostes do desânimo que nos assaltam? É a nossa única opção: LUTAR.

Morrer vamos todos, mais dia menos dia. Então, que morramos lutando pelos nossos sonhos. Pelo menos teremos a chance de realiza-los.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Demônios são belos
são claros, são lúcidos
se mostram pujantes,
se movem com graça.
Demônios são ícones,
se fazem queridos,
volitivos influentes,
domadores cruéis.
Demônios são feras
em vestes de anjo,
deturpam, corrompem,
insensíveis destroem
e passam ao largo
sorrindo da dor.
Demônios são lúcidos
vampiros sangrentos
e seguem caminho
impassíveis na morte.
Na morte do ser
farrapo jogado
amarfanhado e sem vida,
deixando lamento
e somente irrisão.


Lua, lua…

Cristye           
  Lua Crescente no horizonte aberto, sorridente clarão promissor,
jovial semblante, ar inocente de criança peralta,
promete-me o céu noturno salpicado de luzes saltitantes
e persigo teu trajeto como um menino atrás de uma pipa de seda.
Lua Cheia saborosa,
quente, gostosa, imensa solidão que me devora
a olhar-te tão perto e impossível, sonhos em noites de brisa morna
e me esquecendo que haveria futuro,
incertezas esquecidas no momento,
me contento de tua visão hipnótica,
melodiosa canção preenchendo o espaço em torno de mim.
Lua Minguante, sorriso morrendo, tristeza que se insinua em mim,
canções distantes apenas solfejadas na memoria,
lembrança, saudade, melancolia de noites sem cor
e a fuga,
vai-te fugindo céus afora,
entre farrapos nebulosos que já não reconheço
deixando a esperança de rever-te, alimentada sempre
em noites de Lua Nova, escuras e solitárias, na espera do dia.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

noctilucent_clouds_over_saimaa2
A noite se fez branda à beira-mar, silêncio e ruído de passos na areia molhada, onde caminhando vou, levado por um desejo de me entregar à quietude da hora quando águas calmas da maré alta vêm afagar os meus pés numa carícia deliciosa.
Pouco a pouco sossega meu espírito, como bebê cujo embalo vem do mar.
Mar tranquilo, que vejo agora sentado na areia, admirando seus movimentos, ondulações em linhas suaves, uma espuma ou outra, pequena, se formando no refluxo das ondas.
Pequenas ondas que apenas tocam a praia, numa dança lenta, me tocando também onde estou sentado.
Meus ouvidos abarcam as distancias povoadas de murmúrios em casebres de pescadores na hora de dormir.
Não me sinto mais vivente, sou névoa, neblina branca, parte das emanações que sobem da água salgada e pacífica.
Meus olhos se perdem no infinito aquoso. Na noite envolvente, sinto seus movimentos e percebo que tem vida, que sente, que se farta também do mundo exterior. Estamos próximos demais, eu e o mar, nos identificamos um com o outro. Sei que ele tem suas horas de repouso e melancolia, de saudades e de sonhos.
É um corpo que vibra, que ama, e nessas horas ele se mostra o mais terno, singelo amigo.
Me dispo e caminho relaxado em direção às ondas, passo a passo vou entrando no seu corpo líquido, fecho os olhos e recebo seu abraço, envolvente, cálido, energizante. E assim sou levado de um lado ao outro, embalado no mais puro e divino amor das ondas afetuosas  e maternais do oceano noturno.


quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Manhãzinha ainda, um sonho de cachoeira na mata
água caindo na pedra, e um poço enorme no fim da queda,
água corrente, vibrante sussurrar no silêncio da alvorada.
Eu desço o caminho e meus pés mergulham na margem,
sinto o frio que sobe pelos membros,
quase sinto seu frescor na pele do corpo.
Um trovão soando longínquo
e um dormitar que já não é rio,
não é mata, nem pés descalços na areia.
Desperto preguiçosamente,
alongando felinamente o corpo ainda deitado.
Depois caminho lentamente até a janela semiaberta
e recostado meio de lado
fico a olhar languidamente a cidade, 
melancólica paisagem silenciosa
por trás de uma cortina de chuva
espessa, morna e tremendamente calmante. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Passo meus dias numa paz que me assusta um pouco,
não tinha o hábito da sensação de cada coisa no seu devido lugar.
Tudo está correto,
tudo é encaixado no momento certo, de forma natural,
não me esforço muito para ver o bem estar que isso me provoca.
Lampejos de felicidade passam pelo meu peito e os apanho no ar,
me delicio com eles.
Olho os homens que passam em busca do dia que deve ser ganho,
mulheres se atirando na azáfama do cotidiano do lar,
cães que ladram no portão
quando o carteiro chega com novidades,
o ruído da panela no fogo e o cheiro que ela exala,
um cozido bom, 
o feijão temperado produzindo muita saliva na boca,
o leite quente adoçado com mel,
o café fumegante saindo na hora matinal,
o trabalho que começa a ser interessante
porque se aproxima do seu término,
a sensação da execução satisfatória agradando o cliente.
A segurança de estar em família, junto dos seus a trocar idéias sobre o que realmente interessa para o bem viver em conjunto,
todas as coisas sendo relevantes para o bem estar de todos.
O desejo de fazer o melhor
para que eu me veja sendo útil aos demais.
E essa paz que me coloca por cima do mundo,
eu, senhor dos meus passos olhando à frente no caminho,
olhar altivo, semblante seguro e senhor absoluto do meu destino.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Essência Sentimental, by Guga

Fragmento poético de minha alma
perdida na escuridão de lágrimas
pedindo seu amor que não me socorre
crescente solidão que me domina.
Esperança de um amor solitário
levando meus olhos para o nada
dissipada em pequenos fragmentos,
fragmento poético de minha alma.
Um dia talvez você apareça
pedindo meu amor guardado em meu peito
eu esperarei pacientemente
fragmento poético de minha alma.
Se você precisar estarei por perto
meu pensamento estará sempre em você
se você precisar estarei perto
minha mente andará sempre com você.
Meu coração e minha mente lhe esperam
seja feliz em toda sua caminhada
estando você junto de meu amor ou não
fragmento poético de minha alma.
Se você precisar estarei por perto
meu pensamento estará sempre em você
se você precisar estarei por perto
minha mente andará sempre com você.
...FRAGMENTO POÉTICO DE MINHA ALMA...

( Poema escrito por Gustavo Dutra, meu filho de 15 anos, como uma canção para sua banda “PSALM”, que está nascendo agora.)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Alter ego, leva-me daqui!
Leva-me às campinas floridas
onde o dente-de-leão dissolve-se no ar,
levado pela brisa
das manhãs ensolaradas de Setembro.
Deixa-me la, entre flores do campo,
da-me um cesto e um rústico chapéu de palha
e passarei o dia a colher um caleidoscopio de florzinhas
singelas, inocentes florzinhas
para minha amada, quando ela voltar.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Enigma

Não te decifro, não sei quem és,
não vejo da tua face senão os receios infundados
que em mim criastes.
Quando te encaro indagador
vejo cavidades onde estariam teus olhos.
Me sento nu na tua presença
e apenas imagino a resposta sobre a tua existência.
O que és? Quem és? que se me apresenta assim
sem termo, sem definição…
indagadores...
meus olhos perscrutam o negrume que vejo à frente.
Nem um sinal, nenhuma reação que leve ao segredo,
ao todo que apenas vislumbro.
Meu coração se encolhe num lastimar terrível de solidão e medo,
e o silencio me envolve na noite passada na angustia.
Virá a manhã novamente me despertar dos pesares?
Serei eu mais uma vez, eu ao nascer do dia?
Ou devorado pelo teu silencio e para sempre extinto
no esquecimento...?

domingo, 6 de setembro de 2009


Quanto vale um homem?
Qual o preço da integridade,
da autenticidade do carater?
Qual o preço a receber pela honestidade,
a sinceridade no falar,
a firmeza ao olhar sem receio
nos olhos do interlocutor?
Quanto devo pagar pela confiança,
essa jóia rara e delicada e frágil
dedicada à pessoa em tempo integral?
Qual o preço do amor? O amor dedicado, alegre, juvenil, altruísta e são.
Qual o preço da amizade real?
Do abraço amigo e inesperado em horas de solidão?
Quanto devo pagar por isso?
Quanto me cobrariam os traidores para me dar isso que busco com afinco?
Minha moeda é o mesmo que ofereço. Não há valor mensurável maior
e minha oferta é muitas vezes recusada.
Mas não tenho mais que isso a dar em troca
e como Diógenes, ando pelo dia, lanterna em punho
à cata de personalidades oníricas em extinção.