Ela estava sentada ali havia horas, o livro no colo, concentrada demais na leitura, os cabelos caindo sobre o rosto. Mal percebeu quando entrei e me sentei na poltrona, no canto mais afastado. Depois de um interminável minuto de silencio levantei-me e caminhei pela sala sem vontade. O crepitar do fogo na lareira tinha um som distante e já não familiar. Parei na janela olhando a cidade e as árvores cujas folhas eram agitadas pelo vento úmido de julho.A vida seguia seu curso indiferente às pequenas e insatisfeitas vontades que surgiam, morriam e renasciam num pequeno bangalô de subúrbio.
Voltei-me olhando com insistência seu perfil sério e distante. Aproximei-me delicadamente sentando-me o mais próximo que me permitiu o temor de entrar no seu silencio. Depois de um momento olhando calado, afastei com cuidado uma mecha de cabelos e beijei seu rosto. Me olhou de relance com um olhar vago e um sorriso que apenas passeou pelos lábios. Seus olhos voltaram ao livro e eu fiquei ali, o tempo suficiente para que a dor aguda que inflou meu peito amainasse. Depois, silenciosamente levantei-me, abri a porta e sai. Na rua o vento soprava , frio e úmido, eternamente.
- Flavio Dutra
- Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
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Gosto tanto destes textos melancólicos... É neles que melhor enxergo o amor. Não nas grandes declarações, nas palavras bonitas, mas nos gestos, nas vontades, nas reações quase que involuntárias, porque não são previamente pensadas, e que expressam tão bem o sentimento.
ResponderExcluirGostei muito do texto!
Abraço.
Sublime!
ResponderExcluirAdorei!
Faço tb minhas...(obrigado Angel) as palavras da minha colega comentarista acima.
Abraço Flávio
Beijo Angel
Poxa, mas que livro bomo que ela lia...
ResponderExcluirhehe