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Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

sábado, 25 de dezembro de 2010

E sempre, sempre
nessas horas de festejos dos inquietos,
me recolhendo a um canto e alheio a tudo
me deixo levar pela lembrança 
e essa saudade inevitável
que me acaricia a alma com suas mãos de veludo.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Meus beijos agora voam perdidos
numa vã tentativa de alcançar a boca rubra
onde teu sorriso cria luzes do amanhecer.
Meus sonhos voam com eles nesse desejo
que maltrata minha carne
deixando uma dor que me tortura tanto...
Em noites abafadas de lençóis úmidos e pranto contido,
angustiado me reviro no leito
e minhas mãos buscam a pele quente
do teu seio...
mas em meio ao silêncio e a escuridão da noite sem lua
meus lábios sedentos apenas sussurram teu nome...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Fui eu assim, feliz infeliz
ao vicejar dos meus dias no improvável.
E que dor aquela
quando a realidade mascarada mostrou sua face.
Era um  esmagar, uma mossa no peito
uma roxidão de manhã seguinte à contenda sem nexo
um embriagar-se de todas as bebidas malévolas
um querer silêncio e querer gritar
um andar sem rumo a ter os pés judiados
e o olhar vítreo em ponto algum além d’uma ferida interna
e um  sentir-se só, sem norte, sem morte, sem lenitivo algum
andar nas sombras carregando as pupilas inchadas e vermelhas
a querer que a noite  perdure em suas trevas
a desejar o sono a envolver-me, sem volta
no esquecimento.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Frente ao teu silêncio
eloquente demais
abrangente demais
contundente demais
meu coração se encolhe
oprimido
emite um som comprimido
fechado num canto
sem luz
calado, com frio
a  falta do ar
abrindo a garganta
ahhh...respirar...!!!

sábado, 25 de setembro de 2010

E a busca prossegue...
pelo caminho, sorrisos e promessas
e fantasmas que se vestem de realidade.
Sorrisos e lágrimas inúteis preenchem meu caminho;
nada me dizem, afinal
entre a multidão que me atravanca os passos,
aquela que busco ainda me parece perdida.
Saberá ela que busco? que não desisti  do encontro?
E sentando-me para um descanso
da azáfama do dia
me lembro dos seus olhos profundos como o mar
num dia de calmaria
e minha esperança se renova
meu coração se inflama num respirar profundo
e prossigo, olhando, olhando...
sobre todas as cabeças, todas as mentes mentirosas.
E a busca prossegue...

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

kevincooley8Ela estava sentada ali havia horas, o livro no colo, concentrada demais na leitura, os cabelos caindo sobre o rosto. Mal percebeu quando entrei e me sentei na poltrona, no canto mais afastado. Depois de um interminável minuto de silencio levantei-me  e caminhei pela sala sem vontade. O crepitar do fogo na lareira tinha um som distante e já não familiar. Parei na janela olhando a cidade e as árvores cujas folhas eram agitadas pelo vento úmido de julho.A vida seguia seu curso indiferente às pequenas e insatisfeitas vontades que surgiam, morriam e renasciam num pequeno bangalô de subúrbio.
Voltei-me olhando com insistência seu perfil sério e distante. Aproximei-me delicadamente sentando-me o mais próximo que me permitiu o temor de entrar no seu silencio. Depois de um momento olhando calado, afastei com cuidado uma mecha de cabelos e beijei seu rosto. Me olhou de relance com um olhar vago e um sorriso que apenas passeou pelos lábios. Seus olhos voltaram ao livro e eu fiquei ali, o tempo suficiente para que a dor aguda que inflou meu peito amainasse. Depois, silenciosamente levantei-me, abri a porta e sai. Na rua o vento soprava , frio e úmido, eternamente.

domingo, 5 de setembro de 2010

Minha vida é um livro
fechado
repleto de ensinamentos herméticos
e dádivas para quem ali se aventura.
Poucos passaram da introdução,
muitos foram além
mas não abriram o capítulo do coração.
Ali ha uma chave, um segredo criptografado.
E eu aqui sentado, de frente para você
ansioso por ter-te guardada aqui, no meu intimo
te ofereço todas as chaves, todas as senhas
para que o abra,
e conheça o mais importante de mim
e quem sabe talvez, é minha esperança, 
você se deslumbre com o que descobrir.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ouvindo um canto medieval que me vai aquecendo o coração
enquanto me sento serenamente, olhando o sol
atravez de uma nuvem de aço,
me aconchego nos acordes sonoros que vêm da sala.
Enquanto isso
uma saudade enorme, tão intensa! quase insuportável...
leva meu olhar a vagar pelo crepúsculo
numa busca inútil de algo que foi
e nunca mais será novamente!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Segue-me como sombra, na memoria, no coração.
Persegue-me em sonhos no calor das horas
pelas tardes embotadas de agosto.
Me apego numa lembrança; ela nada sabe
dessa saudade que me destroça ao fim do dia.
E a onda de perfume que ela leva nos cabelos
e meus olhos faiscantes ao lembrar seu nome
e esse medo de morrer sem que lhe traga um dia
numa dessas manhãs de relva orvalhada,
ou quem sabe, depois
d'uma chuva repentina e trovoadas
e todo aquele aroma de terra molhada,
meu coração nas mãos, inteiro, febril, generoso e brando.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Hiroshima 8:15


Agnelo Quelhas
Oh! Hiroshima, Hiroshima!
Por que te esquecestes de mim?
Eu pairava sobre teu povo e dormitava em suas esteiras
ao raiar do sol das 8 e 15, aquele dia.
Me surpreendo ainda olhando no passado:
eu estava no berço e chorava pelo seio materno,
onde minha mãe? onde? onde os braços protetores?
Onde os homens que usurparam minhas asas
para com outras
metálicas, de duro brilho sobre meus ombros
duros algozes,
virem queimar minha relva no meu jardim
e trucidar minhas papoulas inocentes e úmidas no amanhecer?
Venham homens do poente com vossos encouraçados estúpidos
quero ofertar-lhes o meu perdão!
Oh! Hiroshima! Hiroshima!
Lembra-te de mim ainda!
Lembra-te de mim em todas as pedras calcinadas de teus prédios
de teus muros, da cada calçada
onde ouviram apressados e sem rumo
meus passos
naquele dia.
Lembra-te de mim que ainda procuro aqui o meu jazigo,
meu leito que não me destes, porque ainda vivo eu em ti.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

kevincooley7

Andei por caminhos que não quis
levado pelo desejo do esquecimento.
Andei por lugares que não vi
em noites perdidas
em braços distantes
e palavras de pó.
Andei por ai...
querendo em verdade
apenas voltar pra ti.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Celia se abrazó a su marido, apretó los dientes y empujó. Y entonces, en  una oleada de sangre surgió una cabeza cubierta de pelo oscuro y un pequeño rostro aplastado y púrpura, que sostuve como un cáliz con una mano, mientras con la otra desprendía de un gesto rápido la cuerda azulada que envolvía el cuello. Con otro brutal empeño de la madre apareció el resto del cuerpo de mi nieta, un paquete ensangrentado y frágil, el más extraordinario regalo. Con un sollozo abismal sentí en el centro de mí misma, la experiencia sagrada de dar a luz, el esfuerzo, el dolor, el pánico y agradecí maravillada el valor heroico de mi nuera y el prodigio de su cuerpo sólido y su espíritu noble, hechos para la maternidad. A través de un velo me pareció ver a Nicolás emocionado, que tomaba a la criatura de mis manos para acomodarla sobre el regazo de su madre. Ella se irguió entre las almohadas, jadeando, mojada de sudor y transformada por una luz interior, indiferente por completo al resto de su cuerpo que seguía pulsando y sangrando, cerró los brazos en torno a su hija y, doblada sobre ella, le dio la bienvenida con una catarata de palabras dulces en un lenguaje recién inventado, besándola y olisqueándola como hacen todas las hembras, y se la puso al pecho en el gesto más antiguo de la humanidad. El tiempo se congeló en el cuarto y el sol se detuvo sobre las rosas de la terraza, el mundo retuvo el aliento para celebrar el prodigio de esa nueva vida. La matrona me pasó unas tijeras, corté el cordón umbilical y Andrea inició su destino separada de su madre. ¿De dónde viene esta pequeña? ¿Dónde estaba antes de germinar en el vientre de Celia? Tengo mil preguntas que hacerle, pero temo que cuando pueda contestarme ya habrá olvidado cómo era el cielo… Silencio antes de nacer, silencio después de la muerte, la vida es puro ruido entre dos insondables silencios.

(PAULA -  Isabel Allende)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Não é querer ser triste
ou melancólico por uma ausência de quem nunca esteve.
Não é um lamento pelo amor que não vivi
ou pelo amor perdido na madrugada de lua cheia do verão passado.
Nem chega a ser uma perda pois se nada perdi.
É algo mais, isso que me aflige,
essa dor indefinida que me pressiona
nas manhãs de primavera ao despertar dos pardais
nas paineiras da praça do lugarejo onde vivo.
É algo que virá, ou mesmo que espero há muitíssimo,
seja!
mas que fará meu coração saltar, como criança
em riso cristalino lançado aos ares
sob uma intempestiva chuva de verão.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A alegria de uma manhã ao nascer do sol,
como num amanhecer de domingo,
tendo o coração jubiloso de amor.
Amando então..
."cheia de luz no olhar, misturei-me na cidade..."
com   aquela vontade irreprimível de compartilhar o que sentia.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Tenho medo de dar o primeiro passo.
Mas não há outra opção possível.
Tenho que me arriscar,
como num caminhar à beira de um abismo
no alto de um penhasco.
Um passo em falso e vou me espalhar no fundo de pedras.
Deve ser mais dolorido o tempo da queda
que o atingir o chão lá no fundo,
bater meu corpo nas rochas rudes, irregulares, cruéis.
Mas tenho que dar um passo, e se nada acontecer,
um outro e mais outro.
Estar vivo é cruel, andar pelo mundo é cruel e irracional.
E qual a vantagem disso tudo se lá no fim,
talvez no meio do caminho,
a morte inexorável me surpreenderá?