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Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Um minuto a meio da tarde.

Num minuto isolado,
no meio do dia, eu me lembro.
E então me da uma saudade tão profunda,
tão intensa, e ao mesmo tempo tão inócua,
que dura mesmo esse minuto e some
diluída nos afazeres da hora.
O que é a desesperança?
O que é a resignação?
A aceitação da fatalidade?
É como a morte de um ente querido.
Sabemos que não volta mais,
que nunca mais vamos ver
e ainda assim por um tempo talvez longo
talvez bem curto, quem sabe,
ainda mantemos a saudade.
 

Um piano ao crepúsculo.

Caminhando sozinho numa rua silenciosa; inicio de uma noite cálida de verão, meus passos ressoando no calçamento desgastado e limpo e pensando em tantas andanças, tantos caminhos trilhados, imaginando se ainda teria muitos a percorrer ou simplesmente se ja me aproximo do fim, sem contudo me dar conta.
Passando por uma casa de varanda enorme e bem arejada, quase sentindo o aconchego da hora crepuscular em suas cadeiras de metal cromado, de repente um piano... alguem tocava um piano àquela hora magica do dia.
Acordes que voando pelo espaço vieram me abraçar, envolveram-me todo em sons deliciosos, puros, calorosos, quase podia respira-los ali parado, estático, olhando a varanda vazia, e me deixando preencher de sons. 
Eu quase podia vê-los, eram palpáveis, materializados em cores vibrantes, corriam os acordes pelo meu corpo, eletrizantes, eram a mim direcionados.
Não conhecia a melodia, mas era linda, num compasso lento, cada nota ribombava com forte eco em meu peito, os acordes numa harmonia singela e lúcida. 
Desejei conhecer o pianista, ou seria ela? Desejei sentar-me ao seu lado naquele instante, admirar suas mãos passeando pelas teclas, seus dedos finos leves e ligeiros em toques suaves.
Imaginei o sorriso angelical aflorando em seus labios, pois eu estava ali ouvindo enlevado, num instante congelado de felicidade infantil.
De súbito o silencio... silencio mortal caindo sobre a rua e as luzes foram se apagando nos meus olhos, agora olhando a rua nua e sem vida.
Segui meu caminho solitário novamente, mas levando comigo uma alegria calma de quem recebeu um presente secreto de uma pessoa querida.