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Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

domingo, 4 de novembro de 2012

De onde venho o espaço é meu lar.
Lá, entre estrelas, cometas, nebulosas
e constelações que nascem como bebês.
Sou do pó das galáxias, e sou da luz de bilhões de sóis,
sou vento girando em torvelinhos cósmicos
indo ao encontro do desconhecido,
pois saber é meu destino
e mais eu busco, e mais eu quero
e mais e mais e mais e mais
infinitamente descobrindo, infinitamente buscando
infinitamente sonhando...

sábado, 30 de junho de 2012

Borderline

    O dia começa invariavelmente com aquela sensação de sonho. Um distanciamento da realidade que desde o despertar me põe numa bolha impermeável, impedindo o contato direto com a realidade. Faço um café, na esperança de que isso vai me deixar melhor mas parece não fazer nenhum efeito na minha disposição. Apanho um livro na estante, voltando em seguida ao leito. Uma música persiste na memória. Vou ao computador e seleciono o intérprete para tocar no player. A musica bendita não vem, me irrito e desligo tudo. Volto ao quarto e ao livro. Leio varios capítulos sem me concentrar verdadeiramente no enredo. Um olhar no relógio me diz que já é hora de almoço. Não tenho fome , mas mesmo assim resolvo que tenho de tomar banho e sair, ir ao supermercado, coisa que sempre reluto em fazer, não pelo trabalho de comprar coisas para meu sustento, mas sim pelo incômodo de ver  pessoas.
Depois de banho tomado, penteado minhas madeichas (cabelo grande e descuidado), vou para o sacrifício. Até que não é tão mal. Cumprimento com prazer os conhecidos que encontro. Até com alegria sinto o sol do meio dia, seu calor, a energia da rua ensolarada, a satisfação das pessoas em falar comigo. Vejo isso em seus rostos, radiantes ao me encontrar.
No mercado, compro pizza, verduras, legumes, tudo muito pouco, o suficiente para uma pessoa consumir por uma semana, ovos enfim, gosto de ovos fritos, e alguma cerveja. Essas na verdade, uma quantidade razoável para um fim de semana.
De volta ao lar. Abro a primeira antes de desembrulhar as compras e vou tomando ao mesmo tempo que lavo alfaces, rúculas, seleciono rabanetes para guardar, separo salsa para temperos futuros, e os tomates bem embrulhados num saco plástico para melhor conservação. Assim se vão as duas primeiras, com alegria, com a disposição de um noivo que tem como certo a felicidade depois do casamento. A pizza fica de prontidão, à espera para quando terei fome.
Ligo o computador na esperança de que tenha alí alguma coisa que me faça a vida mais estupenda, mais graciosa, mais interessante enfim, e em meio às midias sociais vou me entregando ao tédio da tecnocracia. Mais uma cerveja, duas, três, e o dia passa em frente ao monitor. Baixando musica que não terei tempo para ouvir, livros que nunca vou ler, informações que não vão realmente me servir de nada na segunda feira de sempre. Até que chega o crepúsculo. Crepúsculo que não vejo, afinal estou aqui ligado numa bela imagem de qualquer paragem num fim de mundo que não me diz respeito. Meu pôr-do sol, que deveria ser só meu, me passa despercebido e quando vejo já é noite.
Vou à geladeira e abro a décima cerveja; quando vou encher o copo no balcão, vejo que ja tenho outra aberta e ainda sem começar. Porra, me digo. Guardo-a com raiva e depois encho o copo com a que estava à espera. Acho engraçado, em silêncio, sem rir-me do fato. Tomo outro copo num trago e me da uma vontade de urinar. Me viro e abrindo o fecho da calça urino na lixeira da cozinha. Nem sei verdadeiramente o que faço. Cansado, me sento um pouco na cadeira e começo a cochilar. A cabeça pende sobre o peito e fico assim por um tempo indefinido. Acho que durmo mesmo, pois quando alarmado abro os olhos, consulto o relogio e percebo que se passou muito tempo. Tenho sono. Me levanto e vou ao quarto, onde me jogo na cama e adormeço.  

sábado, 2 de junho de 2012

Gostaria eu de voltar a escrever, mas algo me aconteceu e não mais concateno meus pensamentos; minhas ideias até fluem mas não as coordeno mais, me escapam sem controle e um lindo verso que poderia gerar um belo poema simplesmente desaparece em meio a um turbilhão de imagens confusas e quando o procuro, foi-se, não está mais la.
É uma agonia, é massacrante. Essas ideias me acometem pela madrugada e depois não consigo mais dormir. Me assaltam no meio do dia e naquele momento são de uma clareza cristalina, para logo depois desvanecerem-se como fumaça ao vento. Havia algo em mim que solidificava essas imagens antes de transpô-las ao papel. Esse algo perdeu-se. Era a argamassa que unia as frases, e do conjunto fazia o edifício, pequeno que fosse, mas habitável. Não tenho mais isso, como o confeiteiro que perdeu a mão para fazer seus quitutes. Estou perdido. Sem poder me expressar pela escrita , algo me falta; um teto, um chão, um caminho seguro, um lar. Sei não, mas acho que não sou mais. Não sou.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Era um dia de calor abrasador e eu
quieto e remoendo reminiscencias, sentado no meu caixote de maçãs,
me ressentia de coisas acontecidas que não entravam no meu entendimento.
Pode um amor jurado eterno, morrer em dois dias?
Pode a visão da pessoa perfeita se desfazer no primeiro deslize?
E eu me desesperava por entender as razões que a razão humana inventa
a seu bel prazer
para justificar seus erros, antes ditados por interesses camuflados em altruísmo.
E depois de um infinito tempo de repouso e cansaço de alma
me dei conta de que tudo não passa de vaidade extrema.
Deixei meu caixote de maçãs, me refestelando ao solo
e dormi o sono dos justos.



quarta-feira, 28 de março de 2012

Não escrevo mais , é só isso
morri, provisoriamente, de uma morte intempestiva
e no meu funeral nem eu compareci.
Mas estou morto é só isso
e ninguem sabe; cuidado! é segredo!
Quando eu voltar da minha morte, se voltar,
te aviso.

quarta-feira, 14 de março de 2012

O dia começou bem estranho. Algo me incomodava desde os primeiros minutos logo após o despertar. Conheço bem essa sensação. É quando meu corpo me diz que vou me arrastar pelo dia como um molusco, um caramujo ou simplesmente uma lesma em todos os sentidos pejorativos.
E mesmo que tome três cafés sem açúcar na parte da manhã isso não ajuda, até me deixa mais ansioso em tudo que faço. Deito alguns palavrões boca a fora quando não acerto um detalhe no que estou fazendo ou quando o site requerido demora a carregar. E assim a tensão vai aumentando no decorrer do tempo. Quase expludo no meio do dia e fecho tudo para me recolher numa introspecção à hora do almoço. Almoço é modo de falar pois não há almoço propriamente dito. O estômago não resiste a mais que uma fatia de pão com gergelim. Ou uma colher de mel. Volto logo depois aos afazeres que o dia exige mas, ao meio da tarde preciso parar novamente. Uma angústia me domina e preciso pensar. No entanto não penso. Somente sinto. Fecho tudo de novo e me recolho à cozinha numa urgência de fazer um lanche. Hora do café da tarde! Vamos lá.
Ponho a frigideira no fogo, quebro um ovo no óleo quente e observo todo o processo cuidando muito para não quebrar a gema. Coloco duas fatias de pão integral no prato e, quando no ponto, deito o ovo por cima. Apenas isso, sem me esquecer de alguma pitada de sal.
Me sento então e cortando tudo em fatias, pensativo, aquela angústia volta com toda sua crueza e declara seus porquês. Penso enfim com saudade. Uma saudade antiga. Uma saudade de eras. Uma saudade cuja idade se perde no principio dos tempos, me parece.
Enquanto como meu lanche, lágrimas sinceras correm pela face, se misturam no pão e temperam com um sabor de jiló o que antes era mais um hábito insôsso. Penso comigo, se alguem me visse agora seria realmente cômico. Daríamos boas risadas dessa situação.
Pego a toalha de papel e seco meu rosto, meus lábios e por fim assôo o nariz. Choro sem razão, me digo. Por fim numa reação de revolta meu nariz se irrita e espirro. Duas, três vezes. Termino meu lanche e vou ao banheiro lavar o rosto.
Ainda tenho uma boa parte do dia para aguentar.

sexta-feira, 9 de março de 2012

O que fazer se havia entre nós meio século de silêncio e medo
e grilhões que não se quebram num único alvorecer?
Sinto pena de mim, se a mandei embora por um receio infundado
de perdê-la.
Ela partiu e ainda no caminho, um olhar sobre meu rosto
num pedido mudo de perdão; perdoar?
o quê? Deus meu!
e quando desapareceu nas brumas da memória
fiquei ali, parvo olhar vagando no infinito
com meio século de medo,
a dilacerar-me os ombros.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Não me olhes como algo enfadonho
pois logo serei mais do que teus olhos podem ver.
Ande comigo pelos caminhos da incerteza
e verás o que não viu o olhar costumeiro.
Verás-te a surpreender a alma com os meus feitos
e a enormidade do meu alcance.
Siga-me ou deixe-me seguir-te,
não importa, nada é importante
quando todos os caminhos são sempre os mesmos
e darão sempre a lugar nenhum.
Mas se seguir-me ou se eu seguir-te
que seja com o coração
e assim teremos a convicção de ter valido a pena.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Hoje voltei a ouvir rock em alto volume.
Nada demais. Apenas uma sequencia de Pink Floyd e Led Zeppelin por uma hora e meia de musica "esguelada". Um sinal de que volto a ser eu. Para quem cresceu ao som de Mamas and the Papas, Beatles, Rolling Stones e depois os progressivos nos anos 70, o rock está no sangue. Andei cabeludo e de calça boca sino muito antes que a rapaziada dos anos 90 copiasse a moda. E posso me gabar de ter vivido uma época sem igual, a qual copiam hoje, ou tentam pelo menos, mas sem chegar à sombra do que aqueles musicos fizeram nos anos do "faça o amor, não faça a guerra".
Portanto, fechei as janelas e portas, escolhi a seleção que melhor condizia com meu espírito sempre rebelde e pau na máquina. Hoje sou o DJ e a festa é so minha. Vou deixar o sangue ferver ouvindo Wish you were here e Welcome to the machine, até os ouvidos cansarem. Hoje sou Gilmour, sou Roger Waters, sou Mick Jagger. Hoje sou eu.
Sabem o que é a felicidade?
A felicidade é ser você na íntegra da tua essência, sem subterfúgios, sem papeis sociais em que você se força a viver a vida de outros. A felicidade é viver o que você tem de melhor, não importando se isso for seu conhecimento e amor pela historia do rock ou algo como comer jiló refogado com cebola, como tira-gosto enquanto degusta uma cerveja.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Diga que não posso ser eu
constante, genuino e mordaz.
A franca palavra lançada no meio da sala.
Serei então fragmentos
impróprios, emprestados de papeis secundários
e o riso falso, a felicidade vivida no palco,
até que meu coração expluda na gaiola
de angustiantes grades de tédio.
Diga então que não posso ser
e outro virá
ao cair da noite, ao amanhecer, quem sabe
como algoz
um outro que não eu
a pisar meus sonhos, a cuspir quimeras em meus dias
a delatar meus prazeres secretos
e violentar a paz monástica dos meus dias anciãos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Não gosto de postar obras de outros autores aqui, mas numa noite como esta em que me falta palavras pra dizer o que sinto, ninguem melhor e mais autorizado que possa expressar com suas palavras meus sentimentos. Pablo Neruda.  

 

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada

e tiritam, azuis, os astros à distância".

O vento da noite gira pelo céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Eu a quis e por vezes ela também me quis.

Em noites como esta apertei-a em meus braços.

Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela me quis e às vezes eu também a queria.

Como não ter amado seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela.

E cai o verso na alma como o orvalho no trigo.



Que importa se não pôde o meu amor guardá-la?

A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. À distância alguém canta. A distância.

Minha alma se exaspera por havê-la perdido.


A mesma noite faz brancas as mesmas árvores.

Já não somos os mesmos que antes tínhamos sido.

Já não a quero, é certo, porém quanto a queria!

A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.

Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos.

Já não a quero, é certo, porém talvez a queira.

Ah, é tão curto o amor, tão demorado o olvido.

Porque em noites como esta a apertei nos meus braços

minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Mesmo que seja a última esta dor que me causa

e estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito."

sábado, 14 de janeiro de 2012

Os olhos eram duas fogueiras azuis
intensas 
que me diziam da incerteza, do medo
e eu sabia o que poderia haver por trás deles.
O deserto crescente aproximando-se, 
abarcando com sua aridez toda a primavera incipiente,
e nenhuma lágrima
que alimentasse aquelas raízes mal brotadas.
As mãos, tão outrora firmes, poderosas!
enérgicas e suaves a um tempo,
já distantes agora e sem vida que me transmitam.
Fuga inquietante do olhar, desassossego
e a fatalidade inexorável do afastamento
a nos olhar, nos olhar
e sem que pudéssemos evitar...