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Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Tracy Raver

E as guerras passaram.
A tormenta se foi, perdendo-se no horizonte,
sublimada em névoa de garoa fina.
Um silêncio me envolve indagador nessa tarde de poente,
quando raios dourados ainda fazem longas sombras nas árvores
e uma paz estranha me deixa incomodado.
Vejo os pardais a brincar na folhagem, vida renovada.
E esse medo de perder tudo, esse momento precioso
me faz quieto, em silêncio reverente.
Sentado num banco de pedra de jardim público
olhando as pessoas que passam, levando batalhas nos bolsos,
me admiro delas e de mim mesmo que já fui assim.
Olho à minha volta e respiro fundo,
me levanto e em passos lentos
caminho em linha reta, em direção aos meus dias seguros.
E logo estarei em casa para uma sopa fumegante de aspargos.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Me cansei de poesia
me cansei de todo verso inútil.
Estou aqui sentado à espera do momento
em que deveria apagar todas as reminiscências,
todas as dores; que o poeta vive delas todas
oriundas de fatos ou não, criadas por vezes
na sua imaginação fértil, e mesmo assim vividas em plenitude.
Mas me cansei.
Estou para ser materialmente prático
egoísta, e estipular metas de vida.
Sem sonhos, sem ilusões, sem amores falsos,
e nenhum transtorno se ela não me responder amanhã.
Estou pronto, uma arma na mão
uma corda pendurada no teto
e o fim que se avizinha.
E no entanto
a coragem se esvai na primeira inspiração.
Saudade sem tempo,
sem direito à lembrança.
Saudade de um dia de frio intenso,
do salmão desandado no almoço de domingo,
desagrado passável, risível em cumplicidade.
O pinhão saboroso na sala
em frente à televisão,
o acidente da câmera, caindo sem cuidado
no gramado do jardim na hora da foto.
Saudade do Matignon
em noite de lua e vento frio,
o passeio no parque,
o passeio na cidade em tarde banal,
tarde de televisão, olhando fotos no computador.
Café da manhã com mel e vinho seco na mesa.
Calma de horas sem porvir
e nenhum tempo para Ser...
Oh! que pena! sem tempo de Ser!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Quotidien

fotos-mulheres-Jan-Scholz-09

La vie...
les jours qui passent
les heures qui coulent,
la soif...
un baiser que je ne peux plus
un sourire que je ne vois plus
une caresse que je n'aurai plus
une vie
qui me le répète à tout instant,
arrête!