Minha foto
Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O amor nos tempos da net.

Uma noite de inverno, num futuro distante, sentados numa sala aconchegante, o fogo crepitando na lareira, tomando chimarrão enquanto conversam, falam do frio, ela pede que lhe traga uma colcha a mais para aquecer os pés, ele vai pegar, logo volta e estendendo-a sobre suas pernas senta -se ao seu lado.
Falam de música, cinema, de livros e discutem algumas teorias filosóficas. Discordam sempre e acabam caindo no riso, acusando-se mutuamente de um não compreender o raciocínio do outro, ou de simplesmente discordar, apenas pelo prazer de discordar. Recordam-se de outras noites, outros dias, amigos que se foram, viagens programadas, realizadas umas, outras não, coisas a fazer nos dias vindouros. Falam e falam por horas a fio, num interminável fiar de assuntos os mais variados. O mate acaba, faz-se um silencio, que horas são? Já? Como o tempo passa depressa...


—Lembra quando ficávamos horas na Internet no nosso começo? E a gente nem se conhecia pessoalmente? Eu me lembro. Me lembro também que você um dia me agrediu com palavras duras, nossa primeira briga; aquilo pra mim foi o fim.
—É... foi. Eu fiz isso a você.

  Ele se senta de frente para ela, pega suas mãos num gesto de aquecê-las. Olha nos seus olhos e contrito, o semblante traindo a dor de uma ferida antiga, mesmo depois de tanto tempo, so consegue dizer: Me perdoe.
Ela ri, dá-lhe um tapinha carinhoso no braço e diz: Seu bobo!!

Pouco depois, quando vai ao banheiro antes de dormir, ele se olha no espelho e o que vê são dois olhos cansados, marejados de lágrimas.

Virtual doméstico.

E eis que imagino ter você comigo todos os dias. Chegar em casa e compartilhar com você os acontecimentos do dia. Tomar um banho juntos, depois sentar na cozinha e conversar amenidades. Ouvir musica juntos, comentar um livro interessante, aquele filme legal. Deitar tua cabeça no meu colo e fazer cafuné até você adormecer. Depois te acordar com um beijo tranquilo, passeando meus lábios sobre tua face, tua boca, aspirando o perfume da tua pele e dos teus cabelos. Acordar todos os dias tendo você ao meu lado desfeita em fiapos de sono, sorridente um dia, mal humorada em outros. Te desejar bom dia com um abraço recheado de beijos. Tomar um café fumegante "na corrida" antes de sair com um aceno e um beijo jogado de longe. Saber que a rotina virá um dia e compreender enfim que o amor é também feito de dias brancos. Rir juntos de qualquer coisa banal; será que um dia riremos às gargalhadas sem motivo outro que o prazer de estarmos juntos? Amar você com frisson, com deleite, com prolongado prazer de um arrepio circulando pelas costas, enquanto você "puxa" meu cabelo, com ganas de arrancar-me a alma. Abraçar você com carinho e afeto e afagos e mimos. Cuidar de você, da menina que ainda brinca com sonhos e que se recusa a deixá-los morrer.

O que sinto não foi imaginado. Tuas imagens não foram criadas na mente de algum artista ( ou teriam sido? ). Nossos contatos são apenas meio completos, quando falta o som das nossas vozes, o brilho dos nossos olhos, o cheiro, o calor da pele. Contudo, ainda nos restam os pensamentos, mesmo que expressos em linhas frias numa tela branca. Já não é pouco e no momento nos basta, apesar da insuficiência em satisfazer os anseios do espírito. Um mínimo de presença, os pensamentos, e esses não são em nada virtuais. Têm força, têm poder de realização, e não há distância que os impeça de atingirem o objetivo. Mas o que é que pensa? O espírito, a alma ou qualquer outro nome que se lhe dê. E se tuas palavras mesmo sem o som da tua voz, podem expressar o que vai no teu espírito, se eu me identifico com elas e me calam fundo no coração, então fica claro que temos uma grande afinidade. Tão real que interfere no metabolismo, na pulsação, no sono e de forma muito positiva no humor.
Realidades apartadas. Destinos cruzados.