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Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

terça-feira, 28 de abril de 2009

Aquelas nuvens de volta, brancas, leves, límpidas
num fundo azul intenso e imaculado
e eu apenas olho, distante e impassível
uma melancolia me mantendo estático
olhar incrédulo e surpreso
e não sei o que fazer com essas nuvens
brancas, leves, límpidas
que deveriam trazer-me "un bonheur",
um bem estar que não percebo
e não sei mesmo o que ser
o que fazer
de mim
de meu ser
que já não se consola de nuvens diáfanas.
Uma aragem me perpassando a pele
no fim de tarde azul e dourado
e eu de súbito percebo,
- Como está frio!

sexta-feira, 24 de abril de 2009


Há sempre uma severa melancolia permeando a alma de um poeta. São lembranças que vem de outra esfera e trazem consigo sentimentos diáfanos, como uma saudade imprecisa de algo que se viveu, mas que não se sabe onde nem quando.É como se tivesse em certo momento desenvolvido uma amnésia parcial que deixasse apenas as sensações de fatos vivenciados em outra época.
Mesmo quando fala do momento presente o poeta incorpora experiências passadas, ilusórias ou não. Se fala de momentos já vividos, por certo terão sido bons para deixar assim sua marca na alma e no inconsciente.
E se nada disso se passou de verdade num tempo anterior e indefinido; de onde então parte essa melancolia que nos faz parar no meio do dia, o olhar perdido no infinito a buscar pela definição de uma sensação, pela emoção de uma frase reveladora que ilustrasse a descoberta em um átomo de tempo, de uma fagulha de sentimento puro e cristalino que na maior parte das vezes nos escapa?
Pois, o que o poeta faz, nada mais é que captar, numa ínfima parcela de tempo, o instante fugaz da revelação, partindo de sua alma, de sublime amor pela vida.

sábado, 18 de abril de 2009

Que saudades sinto
benzinho, que não explico.
Saudade de toda hora
saudade de cada minuto
saudade do que já sonhei
saudade do que vivi
saudade do que serei
saudade do que passei
de bom e de mal também
a vida é assim
uma saudade crônica
se instalando em mim
no primeiro segundo sem ti.

O violonista.

Solenemente sentou-se
dedilhou as cordas convicto
e da partitura da alma
tirou os primeiros acordes
da vida.


Meu anjo em mim.

Habita em mim um anjo de olhar pacífico
abrangente e lúcido.
Habita em mim um anjo de elevada estirpe
iluminado e puro.
Repousa em mim um anjo de silêncio
meditativo e eterno.

E quando vem a fera que sou
mostrar os dentes
o olhar do anjo me aniquila impávido
sem dor, sem sofrimento
só luz e calma e silêncio
em paz
irresistível
e belo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Amanhecer.

Lentamente se calam os açoites.
Não vergastam mais minh'alma insana
as lufadas gélidas de ventos árticos.

Brisa mansa, cálida luz
envolta em nuvens de algodão.
Aos meus olhos se abre no infinito,
ainda baços de lágrimas pretéritas,
rasgo de esperança sobre denso manto negro.

E meu coração se inflama
e geme, e ri
grita jubiloso, braços abertos, grilhões partidos
olhar atento, na nesga de luz,
e as nuvens de algodão,
e as narinas inflamadas
sorvendo num hausto o odor da esperança,
aguarda,
dois mil tambores no peito,
o pleno descortinar da manhã.

domingo, 12 de abril de 2009


Meu olhar vagueia pela imensidão do tempo que tenho à minha frente.
O espaço imenso me assusta e me retraio um pouco, numa vertigem.
Qualquer tempo é excessivo quando se caminha sozinho.

Mas eu, se pudesse pedir,
queria me balançar numa cadeira velha
sentado numa varanda iluminada,
me aquecendo sob os raios do sol
num dia claro e frio de inverno,
fechar os olhos,
me entregar
ao passar das horas,
até adormecer.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A vida em suspenso.

E do meu verso não brota mais a vida.
Foi-se a exuberância dos dias
e as palavras saem ásperas
áridas, impróprias, impuras.

Gira o vento em volta, frio e úmido
levando e trazendo nimbos negros
em torvelinhos de demônios opressores.

Cinza, chumbo, buraco negro
meu leito é hoje minha masmorra,
vórtice medonho onde se esvai a vida,
onde cometo suicídio ao nascer do dia!

Fujo da luz pálida e triste desta aurora de porão.
E meu verso... que é do meu verso?
Meu verso depende do sol dourado e límpido
de um olhar,
mas o sol se foi entre os nimbos negros
da solidão.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Há um meio especial de se evitar o sofrimento(...) Tudo é apenas um caminho entre milhões de caminhos. Portanto, você deve sempre manter em mente que um caminho não é mais do que um caminho; se achar que não deve segui-lo, não deve permanecer nele, sob nenhuma circunstancia. Para ter uma clareza dessas é preciso levar uma vida disciplinada. Só então você saberá que qualquer caminho não passa de um caminho, e não há afronta, para si nem para os outros, em largá-lo se é isso que seu coração lhe manda fazer. Mas sua decisão de continuar no caminho ou largá-lo deve ser isenta de medo e de ambição. Olhe bem para cada caminho, e com propósito. Experimente-o tantas vezes quantas achar necessário. Depois, pergunte-se, e só a si, uma coisa: Esse caminho tem coração? Todos os caminhos são os mesmos: não conduzem a lugar algum. São caminhos que atravessam o mato, ou que entram no mato.
Em minha vida posso dizer que já passei por caminhos compridos, compridos, mas não estou em lugar algum. A pergunta agora tem um significado. Esse caminho tem um coração? Se tiver, o caminho é bom; se não tiver, não presta.
Ambos os caminhos não conduzem a parte alguma; mas um tem coração e o outro não. Um torna a viagem alegre; enquanto você o seguir será um com ele. O outro o fará maldizer sua vida. Um o torna forte; o outro o enfraquece.
( Carlos Castaneda - A Erva do Diabo)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

sábado, 4 de abril de 2009

A boca maldita.

Minha palavra é frívola e superficial

tocando apenas o esboço das ideias mortas.

Não digo a ti o que pensas,

não imponho ali o que saia da tua boca.

Avento o tema, eis tudo!

Não exulto por vo-lo haver presenteado.

Apenas atiço a chama.

O crepitar,

deixo-o à vossa lide,

ao vosso pensar.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Pela minha janela vejo entrar
luares esplêndidos
e auroras coloridas e sonoras.
Vem dali a brisa da tarde
acalmar os meus olhos do ardor do meio dia
e meu coração se abranda quando ali me debruço
a ouvir trinados em surdina.
Pela minha janela entra um sonho
ao anoitecer
e me traz uma lembrança,
um querer sem tamanho,
uma saudade, e só...
Saudade! do meu bem.