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Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Ando por minha rua num dia comum e divago um pouco.
O vizinho sorri cordato,mas sei que ele não sabe de mim,
não conhece meus dissabores nem minhas conquistas,
ou minhas visões de profeta amador.
A mulher na janela não crê numa palavra que digo
e mesmo assim sorri numa cumplicidade inócua.
Minha vida passa pelas vidas deles sem marcas
e saberão um dia que fui
cidadão das sete horas da noite e das madrugadas insones,
das manhãs lavando a calçada ou molhando as plantas no jardim,
dos domingos de pijama largo, olhando a rua sem movimento.
Mas eu, olhando suas vidas sem que o percebam,
vejo que eles me marcam de forma indelével
com seus amores perdidos ou esquecidos por vergonha ou tédio,
seus sonhos descritos em falsos regozijos no portão na tarde de sábado,
e os amo, reconheço-os em mim mesmo
e sem que o saibam, recolho-os ao meu peito e os admiro pelo que são.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Meus sonhos são tudo que tenho,
são o liame que me atém à vida
e sem eles seria vazio, estéril semente sem solo,
desértica imensidão de atos sem razão,

palavras mortas ou mal nascidas se
m raiz.

Virginia Pinhão

Em meus sonhos eu vejo a mulher ao meu lado
e vindo a noite eu me faço senhor das promessas
e a desnudo em meus braços, branca e suave,
deleite de corpos, união de pensamentos e atos,
um querer sem fim, insaciável ânsia de ser tudo,
sempre inacabada, infinita procura da plenitude no caos.
A busca frenética da infinita bondade
a entrega nas mãos que domam e amam a um só tempo
o volver ao seio da maternidade incestuosa
e uma arrebatadora agonia me perpassando os sentidos
numa corrida louca de miríades de fótons enlouquecidos.

Meu dia ideal

Ter você coladinha em mim e falar com vagar de coisas que só o coração compreende.
Sorrir com brilho nos olhos e o sorriso bastar, sem necessidade de palavras.
Ficar assim em silencio, abraçadinho a você por um tempo e depois,..
depois agir como se nada tivesse acontecido, o coração pleno,
preenchido até a borda,
de uma alegria secreta que outras pessoas não poderiam compreender.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Passadas as horas, vão-se dias brancos
e o tempo é um circulo que se repete, repete...
Eu me perco andando à volta
onde tudo é secura e fome não saciada.
Vasculho meus alforjes à cata de sobejos
e nem uma gota de verso que se extraia do nada.
 ojo a lapiz cópia
Meus olhos atentos, ouvidos atentos, coração atento
esperam ...quem quer que venha na chuva
mas a chuva... não chove, quanto tempo se foi?
O tempo não se conta mais,
perde-se a noção das horas,
como num exílio,
exilado da luz
e no entanto... eu a vejo e não a sinto.
Umbral que não transponho,
onde me sento quieto e apenas olho, observo
à espera...

domingo, 16 de agosto de 2009

Ando absorto entre os homens sem alma e observo seus atos,
entre a incompreensão e a surpresa os observo.
Vejo sorrisos tão belos quanto insensíveis e frios olhos implacáveis
sobre um coração que palpita em constante e monótono pulsar
de relógio mecânico.
Não deveria surpreender-me, e contudo sempre me surpreendo
.



sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Me vem uma hora em que penso
pensar muito faz mal
pensar muito esgota minha estrutura já tão frágil
pensar muito me coíbe certas coisas que amo
quero ser inconsequente
quero comer banana muito madura e ingerir algumas bactérias
quero andar sob o sol escaldante sem medo do câncer de pele
quero beber uma cerveja ingrata que vai me dar barriga
e talvez uma dor de cabeça
quero comer fora de hora, quero sexo sem medo, na hora!
quero não pensar no celular que me agride a todo momento
que intromissão!
não quero pensar, pensar muito me cansa, e essas publicidades
que me apontam tudo que é bom pra mim, apartai-vos de mim!
quero andar descalço, quero sentir a terra sob meus pés
quero não comer de manhã
eu como antes de deitar, ou na hora que me apraz
faço xixi de pé e sinto o tremor quando acabo
me da prazer
não quero ninguém me ensinando a pensar
pensar muito faz mal
pensar muito me inibe, não amo
para amar é preciso não pensar
não, não quero pensar!
quero amar!



terça-feira, 11 de agosto de 2009

O ciúme

Veio o assassino
noite adentro
matar os meus filhos.
Nada posso contra ele
e me afasto em silêncio.

Nenhum traço de lucidez no maior dos rancores
nenhum laivo de dor
também nenhuma compaixão.
Minhas perdas congelam meu sangue no olho
e esse ódio que grita dentro de mim
e tenta se livrar a si mesmo,
que ódio é prisão, ciúme é prisão, posse é prisão
querer possuir é prisão.

Não morro no primeiro golpe mas enfraqueço meus membros
talvez eu não sobreviva na primeira noite
ou nem queira saber depois e siga indiferente um caminho já conhecido
mas a luta é inútil, e se me debato é em vão.
Não posso vencer, não há vencedor
só perdas e dores vindas do nada, e sinto uma fadiga imensa nessa hora.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Hiroshima 8:15


Oh! Hiroshima, Hiroshima!
Por que te esquecestes de mim?
Eu pairava sobre teu povo e dormitava em suas esteiras
ao raiar do sol das 8 e 15, aquele dia.
Me surpreendo ainda olhando no passado
eu estava no berço e chorava pelo seio materno,
onde minha mãe? onde? onde os braços protetores?
Onde os homens que usurparam minhas asas
para com outras
metálicas, de duro brilho sobre meus ombros
duros algozes,
virem queimar minha relva no meu jardim
e trucidar minhas papoulas inocentes e úmidas no amanhecer?
Venham homens do poente com vossos encouraçados estúpidos
quero ofertar-lhes o meu perdão!
Oh! Hiroshima! Hiroshima!
Lembra-te de mim ainda!
Lembra-te de mim em todas as pedras calcinadas de teus prédios
de teus muros, da cada calçada
onde ouviram apressados e sem rumo
meus passos
naquele dia.
Lembra-te de mim que ainda procuro aqui o meu jazigo,
meu leito que não me destes, porque ainda vivo eu em ti.


Presságio

Veio o vento soprando coisas novas em meus ouvidos,
segredos e canções,
e trazendo um aroma da serra.
.k&p.
Trouxe consigo um jeito novo para meu sorriso
e cristalizou um novo brilho em meu olhar.
É por isso que meu coração salta na garganta
quando sinto esse vento em meus cabelos
e meus olhos se fecham
numa revolução de sentidos, emoção e fé.
Veio entregar-me, cansado e trôpego,
em redemoinhos maltrapilhos,
um novo sonho, uma nova crença
solevando minhas pálpebras tão áridas
para que eu possa olhar acima e além, e ainda mais alto,
e sorrindo entre lágrimas incrédulas dizer:
- Estou aqui! Meu sonho...eu vou!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Vento do Norte

Se um dia eu estivesse junto ao mar
ouvindo gaivotas e ondas que rebentam em espuma
queria ter você recostada em meu peito
olhar em repouso no horizonte
a respiração suspensa num encantado instante
e que você me olhasse bem nos olhos e apenas dissesse:
- "Meu vento do norte!"
Eu esboçaria um sorriso tremulo
de felicidade contida
e sem mais o que dizer
me entregaria
ao lindo prazer de se olhar em silencio.

domingo, 2 de agosto de 2009

No meu pátio havia uma fonte, e ela era das coisas que eu mais amava. Minha fonte vertia água cristalina que corria cantante entre pedrinhas brancas e findava num lago singelo coalhado de nenúfares brancos que eram um deleite para os meus olhos. Minha fonte era um sonho.
Um dia veio o inverno baixar suas brumas de cinza e chumbo sobre meus tesouros. Meus olhos não viram mais a singeleza do lago e meus ouvidos tornaram-se surdos para o canto das águas que antes corriam pelas pedrinhas brancas. Passou-se um tempo nem curto, nem muito longo, mas suficiente para que meus olhos se habituassem à escuridão da cegueira e meus ouvidos ao silencio da surdez.
Como não há mal eterno, veio também o dia em que de longe vi as brumas se dissiparem. Corri à minha fonte, saudoso do seu canto e da visão do lago de nenúfares brancos. Meus olhos constataram com incredulidade que o impossível havia acontecido: Minha fonte havia secado!
Não chorei a morte da minha fonte. Desviei o olhar. Um momento depois virei as costas e parti em direção às montanhas onde, ao nascer do dia, tinha ouvido um riacho correr entre as pedras, formando corredeiras e cascatas, e meus olhos ansiavam pela paisagem que poderia descortinar la de cima.