Minha foto
Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Brincavam de fotografar, depois de um dia de passeios, conversas sem começo nem fim, chocolate quente, pois estava frio, ela não quis, ele tomou sozinho, voltas pela cidade, falando de tudo e de nada, num afã de aproveitar cada minuto que escoava em direção a uma distancia que viria logo depois, a encobrir aqueles dias amenos, de uma paz que já se tornava saudade. Ele quis apoiar a câmera numa mureta para registrar um momento dos dois abraçados, não encontrando alguém que o pudesse fazer por eles àquela hora no jardim. Num descuido, na pressa, a câmera no automático, a alça se prendeu no dedo da mão que a posicionava e, ao retirar o braço, levou-a a tombar no gramado, sem danos, mas o suficiente para uma repreensão irada, mais pelo susto que pela possível perda do objeto. Ele riu, se desculpou, e recolocando a câmera, fez a foto, sem graça, perdida a magia do momento. Ela entrou, ainda ralhando, e ele, recolhendo a câmera, logo a seguiu.
Já na sala, ao lado do piano, ela o esperava com um olhar velado de culpa.
- "Eu só brigo com você, né?" foi tudo que conseguiu dizer, a voz sentida, embargada na garganta.
Ele apenas riu, abraçou-a e beijou-lhe o rosto num gesto de afeto, depois passou a mão pelos seus cabelos e ficou ali, a olha-la nos olhos, um sorriso brincando na face.
Seria um acontecimento banal, não fosse o destino que os separaria pouco depois.
E aquele momento ficaria para ser lembrado, sempre que o dia se tornasse nublado e frio, e as noites se tornassem silenciosas na melancolia do outono.