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Eu me contradigo? Pois bem, eu me contradigo. Sou vasto, contenho multidões. (W.Whitman)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

kevincooley8Ela estava sentada ali havia horas, o livro no colo, concentrada demais na leitura, os cabelos caindo sobre o rosto. Mal percebeu quando entrei e me sentei na poltrona, no canto mais afastado. Depois de um interminável minuto de silencio levantei-me  e caminhei pela sala sem vontade. O crepitar do fogo na lareira tinha um som distante e já não familiar. Parei na janela olhando a cidade e as árvores cujas folhas eram agitadas pelo vento úmido de julho.A vida seguia seu curso indiferente às pequenas e insatisfeitas vontades que surgiam, morriam e renasciam num pequeno bangalô de subúrbio.
Voltei-me olhando com insistência seu perfil sério e distante. Aproximei-me delicadamente sentando-me o mais próximo que me permitiu o temor de entrar no seu silencio. Depois de um momento olhando calado, afastei com cuidado uma mecha de cabelos e beijei seu rosto. Me olhou de relance com um olhar vago e um sorriso que apenas passeou pelos lábios. Seus olhos voltaram ao livro e eu fiquei ali, o tempo suficiente para que a dor aguda que inflou meu peito amainasse. Depois, silenciosamente levantei-me, abri a porta e sai. Na rua o vento soprava , frio e úmido, eternamente.

3 comentários:

  1. Gosto tanto destes textos melancólicos... É neles que melhor enxergo o amor. Não nas grandes declarações, nas palavras bonitas, mas nos gestos, nas vontades, nas reações quase que involuntárias, porque não são previamente pensadas, e que expressam tão bem o sentimento.

    Gostei muito do texto!

    Abraço.

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  2. Sublime!
    Adorei!
    Faço tb minhas...(obrigado Angel) as palavras da minha colega comentarista acima.
    Abraço Flávio
    Beijo Angel

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  3. Poxa, mas que livro bomo que ela lia...

    hehe

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Flavio Dutra.